O tratamento convencional do câncer quase sempre envolve sessões de quimioterapia ou radioterapia, que, apesar de funcionarem em uma parcela de pacientes, causam efeitos colaterais seríssimos, que variam desde dores e náusea a infecções e infertilidade.
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“A terapia-alvo surgiu para elevar a eficácia do tratamento, reduzir os efeitos colaterais e evitar que pacientes passem por métodos agressivos que não irão funcionar para os seus casos”, explica Luciana Preger, gerente médica da área de oncologia da farmacêutica Roche. Com chances de cura de pelo menos 80% para as doenças detectadas precocemente, esta é a grande promessa para o futuro desenvolvimento de medicamentos eficazes para o câncer.
Como surgiu e como funciona a terapia-alvo?
As células humanas possuem diversas moléculas que garantem sua proliferação. Nas células cancerígenas, modificações genéticas fazem com que este processo de multiplicação aconteça de forma descontrolada e caótica, levando ao crescimento do tumor e espalhamento da doença.
Após observarem que uma parcela de pacientes não respondia aos tratamentos convencionais do câncer (como a quimioterapia), estudiosos buscaram investigar as razões por trás disso e descobriram que certos grupos de pessoas apresentavam características únicas em suas células, que as tornavam mais resistentes aos quimioterápicos. Estas características nada mais são do que o excesso (ou a superexpressão) de certos tipos de moléculas, que, por estarem “doentes”, causam a proliferação desenfreada das células do câncer. Estas moléculas são denominadas marcadores e são diferentes em cada tipo de câncer.
As células cancerígenas se multiplicam de forma descontrolada devido a alterações em sua estrutura genética (Crédito: Thinkstock)
É importante notar que dentro de um mesmo tipo de câncer (leucemia, câncer de mama, de pulmão, etc.), existem subtipos. Eles são diferenciados justamente por esses marcadores, ou seja, o que determina o subtipo de um câncer é a presença em excesso de uma molécula em particular.
Para alguns desses marcadores, foram desenvolvidos medicamentos específicos, capazes de “procurar” e atacar somente a molécula em questão – trata-se de uma terapia-alvo que age unicamente sobre as células doentes.
Com o advento deste novo tratamento, o diagnóstico do câncer não se limita mais apenas a determinar se um paciente tem um tumor maligno, mas sim de descobrir de que tipo de tumor se trata e se ele é passível de tratamento com a terapia dirigida.
Benefícios da terapia-alvo
Enquanto os quimioterápicos comuns atacam todas as células sem distinção (tanto as cancerígenas como as saudáveis), causando muitos efeitos adversos, a terapia-alvo reduz a toxicidade do tratamento, já que age quase exclusivamente sobre as células doentes, elevando o grau de segurança. Além disso, por atacar somente o foco do problema, este tipo de tratamento garante uma eficácia maior do que o convencional.
Em quais casos o tratamento é utilizado?
Alguns casos de câncer de mama podem ser tratados com terapia-alvo (Crédito: Thinkstock)
Ainda não existe terapia-alvo para todos os tipos de câncer. Porém, segundo a Dra. Preger, na maioria deles é possível identificar um marcador. Atualmente, existem terapias-alvo para tratar subtipos dos seguintes cânceres:
- Cânceres do trato gastrointestinal
- Câncer colorretal
- Câncer de pulmão
- Câncer de mama
- Leucemia
- Câncer de pâncreas
- Câncer de cabeça e pescoço
- Câncer das células renais
- Melanoma
- Cânceres do sistema nervoso central
- Câncer de fígado
- Linfoma
Após ser diagnosticado com um dos tipos de câncer listados acima, o paciente passa por um teste específico que irá avaliar o subtipo da doença e se ele poderá ou não ser tratado com a terapia-alvo.
É importante ressaltar que, mesmo com a terapia dirigida, a detecção precoce do câncer ainda é muito importante para o sucesso do tratamento e possível cura da doença. “A terapia-alvo é capaz de melhorar muito a sobrevida do paciente com câncer avançado ou metastático, mas, nestes casos, infelizmente, não existe chance de cura”, afirma Dra. Preger.
*A repórter Marianna Feiteiro viajou entre 16 e 18 de julho de 2014 a Guadalajara, no México, a convite da Roche Brasil para evento para jornalistas da América Latina com objetivo de discutir os avanços da saúde na região, inovação e biotecnologia.