Causa da microcefalia seria substância legal na água, diz grupo. Governo nega

Dois importantes estudos científicos já deram fortes evidências de que a microcefalia em bebês é, de fato, causada pelo zika vírus. No entanto, um relatório argentino recentemente divulgado aponta outro motivo para a malformação: a presença de uma substância química na água potável, adicionada justamente para matar o mosquito. O alerta é tão significativo que o governo do Rio Grande do Sul optou por não usar mais o suposto desencadeador da alteração neurológica: um pesticida chamado pyroproxyfem.

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Larvicida causaria microcefalia: relatório aponta 

O relatório em questão foi elaborado por pesquisadores argentinos do Reduas (Rede Universitária de Ambiente e Saúde), grupo de médicos que estuda o efeito de produtos químicos na saúde das pessoas, e publicado no site da própria rede.

De acordo com o texto, o zika vírus não seria o verdadeiro responsável pelo surto de microcefalia em andamento no Brasil. O real causador, ainda segundo o Reduas, seria um larvicida que passou a ser adicionado à água potável em regiões de alta concentração de Aedes aegypti, como Pernambuco: o pyroproxyfem.

A substância tem o objetivo de causar alterações no mosquito, impedindo que ele se desenvolva e, portanto, pique os humanos. Seria uma forma de combate à epidemia de dengue e zika.

Após a divulgação do relatório, o estado do Rio Grande do Sul optou por suspender o uso desse larvicida, distribuído aos estados pelo Ministério da Saúde, até que a pasta se posicione a respeito.

Por que eles acreditam nisso? 

O grupo usa alguns pontos para defender sua tese. O principal deles diz respeito ao fato de a microcefalia nunca ter sido associada ao zika vírus em outros países onde maior parte da população foi contaminada. Como exemplo, eles citam a Colômbia, “onde houve muitos casos de zika, mas não há registros de microcefalia”.

O relatório diz também que os interesse comerciais das produtoras desses químicos estão aparentemente atrelados a órgãos como Ministério da Saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan Americana de Saúde (Opas) .

Por último, o texto cita uma nota técnica produzida pela Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), que, entre outros pontos, chama atenção para o impacto biológico de produtos químicos, como os larvicidas. A nota diz que esses produtos químicos “são neurotóxicos para o sistema nervoso central e periférico, além de provocarem náusea, vômito, diarreia, dificuldade respiratória e sintomas de fraqueza muscular, inclusive nas concentrações utilizadas no controle vetorial”.

Posicionamento da Abrasco 

A associação, no entanto, nega que tenha associado o surto de microcefalia no Brasil ao uso do larvicida. Em nota ao site de notícias BBC Brasil, a Abrasco disse que “em momento nenhum afirmou que os pesticidas, larvicidas ou outro produto químico sejam responsáveis pelo aumento do número de casos de microcefalia no Brasil”.

O que realmente estava sendo afirmado, segundo a nota, é que ela considera perigoso que o controle do mosquito seja feito principalmente com larvicidas. “É sabido que um cenário de incerteza como este provoca insegurança na população e é terreno fértil para a disseminação de inverdades e de conteúdos sem qualquer (ou suficiente) embasamento científico. A Abrasco repudia tal comportamento, que desrespeita a angústia e o sofrimento das pessoas em situação mais vulnerável, e solicita prudência aos pesquisadores e à imprensa neste grave momento, pois todas as hipóteses devem ser investigadas antes de negá-las ou de confirmá-las”, afirma o comunicado.

O larvicida 

O larvicida em questão é o pyroproxyfem, produzido pela Sumimoto Chemical e recomendado pela Organização Mundial da Saúde. De acordo com o Reduas, trata-se de uma subsidiária da gigante Monsanto, produtora de produtos químicos, principalmente de pesticidas para uso na lavoura.

A empresa, no entanto, nega, em seu site, que produza o pyriproxyfen ou que seja sócia da Sumimoto. Mas afirma que elas mantêm parcerias comerciais em algumas regiões para herbicidas, produtos usados no controle de plantas daninhas.

O que diz o Ministério da Saúde

Em nota, o Ministério da Saúde afirma que não existe nenhum estudo epidemiológico que comprove a associação do uso de pyriproxifen e a microcefalia e que só utiliza larvicidas recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

“Os produtos passam por um rigoroso processo de avaliação da World Health Organization Pesticed Evaluation Scheme (WHOPES). O pyriproxifen está entre os produtos aprovados por esse comitê e também possui certificação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que avalia a segurança do larvicida no Brasil.[…] A associação entre o uso de pyriproxifen e a microcefalia não possui nenhum embasamento cientifico. É importante destacar que algumas localidades que não utilizam o pyriproxifen também tiveram casos de microcefalia notificados.”

O Governo esclarece ainda que o Ministério da Saúde somente recomenda a utilização de larvicidas em situações especiais, onde há necessidade de armazenamento de água e os depósitos não podem ser protegidos fisicamente.

*Matéria publicada em 15/02/2016