Anualmente, cerca de 486 homens têm o pênis amputado devido a um problema, em geral, evitável. É o que aponta um levantamento inédito divulgado recentemente pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) junto ao Sistema de Informações Hospitalares (SIH), do Ministério da Saúde.
De acordo com os dados, só em 2022 foram 1.933 casos de câncer de pênis, principal causa da amputação – e, apesar de este tipo de tumor ser relativamente raro, os números mostram, segundo a instituição, o impacto da falta de informação, de higiene e até de saneamento básico no País.
Câncer de pênis causa 486 amputações ao ano, diz levantamento
Conforme aponta um levantamento feito com dados do Sistema Único de Saúde (SUS), o Brasil teve, de 2007 até novembro de 2022, mais de 7,7 mil amputações de pênis. Só em 2022, foram 459, enquanto o número recorde entre os anos analisados foi 639, em 2018 – e todos os casos estão relacionados a câncer no órgão.
Ainda que a incidência do câncer de pênis corresponda a apenas 2% entre os cânceres que atingem o sexo masculino, o Brasil é, segundo a SBU, um dos países com mais casos da doença no mundo. Isso preocupa especialmente porque este é também um dos cânceres mais facilmente evitáveis – tudo por ter relação direta com higiene pessoal.
Segundo a SBU, o câncer de pênis tem como uma de suas principais causas a falta de higiene no órgão sexual, algo diretamente relacionado a outros fatores, como falta de acesso a informações corretas, a saneamento básico e casos de fimose administrados incorretamente.
“O principal fator de risco do câncer de pênis é má higiene e fatores que dificultam essa higiene, como a presença de fimose, além de dificuldade de [obter] saneamento básico, de acesso a água potável, a banheiro, a sabão… Ao mínimo de estrutura para poder ter uma higiene corporal adequada”, afirma o urologista Rui Mascarenhas, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia do Pará (SBU-PA).
Conforme explica o médico, tudo isso remete também às condições socioeconômicas – algo que fica claro quando se fala nas estatísticas do câncer de pênis por região.
“Ele é extremamente comum no Norte e no Nordeste, locais que têm situação socioeconômica pior em relação às outras regiões do Brasil. Para se ter noção da gravidade: se o Maranhão fosse um país, ele seria o país com maior casuística de câncer de pênis. O Pará também está entre uma das piores epidemiologias do mundo”, pontua o médico.
É por isso que, junto do levantamento, a instituição lançou pelo terceiro ano consecutivo uma campanha de alerta para a prevenção do câncer de pênis, frisando cuidados simples que derrubam consideravelmente as chances de desenvolver a doença.
Conforme explica Alfredo Felix Canalini, presidente da SBU, a ideia é falar de forma clara sobre o tema para suprir a deficiência de informações, ensinar a forma correta de higienizar o pênis, incentivar a vacinação contra o HPV e a conscientização sobre a postectomia (cirurgia para fimose).
Como prevenir câncer no pênis: higiene adequada e mais
Segundo a SBU, para prevenir este tipo de câncer, é essencial saber como lavar o pênis corretamente, e transmitir esse conhecimento a meninos na infância.
Em primeiro lugar, secar o pênis após urinar é, apesar de algo frequentemente ignorado, essencial para evitar umidade e, consequentemente, a proliferação de fungos e bactérias.
Já no banho, é preciso deslocar o prepúcio, pele que recobre a glande (ponta do pênis), e lavar a volta toda do órgão com sabonete. Além disso, é importante também o uso de preservativo durante as relações sexuais e a higienização do pênis após o ato, de preferência com água e sabão.
Fora a higiene correta, a SBU indica também tomar a vacina do HPV, disponível gratuitamente pelo SUS para a população entre 9 e 14 anos, e a realização da postectomia (retirada do prepúcio) quando a pele que encobre a cabeça do pênis dificulta a higienização.
Sintomas de câncer no pênis
Em geral, o câncer no pênis se manifesta como uma ferida que coça, queima, gera odor forte e não cicatriza mesmo com tratamento tópico. Devido aos sintomas, ele pode ser confundido com uma infecção sexualmente transmissível (IST) – e, diante do surgimento destes sintomas, é indicado buscar avaliação médica para diferenciar a causa.