Quando a barragem da mineradora Vale se rompeu em Brumadinho, um mar de lama devastou a cidade do interior de Minas Gerais. A estimativa é que 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos tenham varrido o que estava pela frente.
Desde 25 de janeiro, data do que está sendo considerado o maior desastre com barragem da década, bombeiros têm atuado na busca por sobreviventes da tragédia que já matou dezenas de pessoas.
Porém, o trabalho da equipe em meio à lama não é simples e coloca a própria saúde de membros da corporação em risco.
Por esse motivo, medicamentos têm sido dados a bombeiros que estão trabalhando em Brumadinho para amenizar os efeitos do contato com a lama potencialmente tóxica, segundo informações confirmadas pela assessoria de imprensa do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais à BBC e reiterada extraoficialmente por um membro da corporação ao VIX.
Lama de Brumadinho: por que é perigosa?
Material orgânico em decomposição

O número de mortos em Brumadinho impressiona. Além das vítimas, ainda há centenas de corpos desaparecidos em meio à lama, animais mortos e mesmo a flora da região foi destruída com o material vindo da barragem.
Esse material orgânico, quando inicia o processo de decomposição, também oferece riscos pelo desenvolvimento de bactérias, como a Clostridium, que conseguem viver em ambientes adversos como a lama de Brumadinho e podem contaminar o corpo humano.
“A pessoa apresenta diarreia, conjuntivite, coceira”, diz a infectologista Raquel Muarrek sobre os sintomas gerados pela contaminação bacteriana.
Metais pesados

A lama de Brumadinho não é apenas uma mistura de terra e água. Parte do quadrilátero ferrífero de Minas Gerais, a cidade vive da mineração e, por esse motivo, seus rejeitos apresentam metais pesados, como o mercúrio e o arsênio.
Essas substâncias, quando acumuladas no organismo, são responsáveis por provocarem reações maléficas.
“É possível ocorrer diarreia, náuseas, dor de cabeça, confusão mental. Mas também é possível que existam pessoas que não vão sentir absolutamente nada”, pondera Raquel.
Riscos a curto, médio e longo prazo

Diarreia, náuseas, dor de cabeça, confusão mental são classificados por Raquel como riscos agudos ou que se manifestam a curto prazo.
A dimensão dos riscos do contato de uma pessoa com a lama de Brumadinho pode ser analisado, também, em médio e longo prazo.
Em relação aos riscos a médio prazo que a decomposição de material orgânico oferece, a médica cita a presença de moscas e mosquitos que ajudam a proliferar doenças como a febre amarela e a leishmaniose, além do trânsito de ratos que transmitem leptospirose. “É como se você estivesse andando no esgoto”, pontua.
Além disso, o contato com metais pesados também não é nada saudável. “Doenças autoimunes passam a se manifestar muito mais facilmente com a permanência na região.”
A longo prazo, porém, os riscos do contato com os metais pesados expostos com a lama de Brumadinho pedem atenção maior.
“Tudo o que se entra no corpo por tempo prolongado quebra barreira. Você manifesta com perda de equilíbrio da imunidade, sujeitando o corpo a infecções. Existe, ainda, desequilíbrio celular, com a possibilidade de doença oncológica [como cânceres].”
O que fazer

De acordo com a infectologista, o uso de medicamentos para amenizar os efeitos colaterais instantâneos da lama funcionam em um primeiro momento. Entretanto, é impossível saber quais são as futuras consequências do contato da equipe de bombeiros ou da população de Brumadinho com o material.
“Depende do equipamento de proteção individual usado lá. A gente precisa melhorar a qualidade do material”, afirma Raquel.
Em relação à população que deve permanecer em Brumadinho, a orientação da médica é que ela se afaste da lama infectada e evite ao máximo formas de contágio, como andar descalço ou alimentar-se de animais que bebem de água que esteve em contato com a lama.
“Os riscos oferecidos por metais dependem da quantidade e tempo de permanência do contato com os metais. Mercúrio, por exemplo, tem efeito cumulativo. É preciso tempo para para saber. Melhor deixar essas pessoas o mais longe possível da lama.”
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