Recentemente, a influencer e enfermeira Peniel Tovar fez um desabafo surpreendente nas redes sociais após passar por um procedimento odontológico. Mostrando o dente removido no atendimento, ela afirmou que a infecção – visível da imagem – lhe causou problemas sistêmicos por cinco anos – e, apesar de muita gente não saber, especialistas explicam que quadros assim podem realmente afetar partes do corpo aparentemente não relacionadas com a saúde bucal.
Blogueira relata anos de sintomas pelo corpo por infecção silenciosa no dente
Usando seu perfil no Instagram, a youtuber Penny Tovar, como é conhecida, fez um desabafo impactante nos últimos dias após sanar um problema de saúde bucal. Conforme contou, ela estava há cinco anos buscando explicações para sintomas inespecíficos pelo corpo que não tinham relação aparente com a boca – e, após se consultar com especialistas de diversas áreas, foi encaminhada por um profissional da odontologia holística para a extração de um dente infeccionado.
Segundo a youtuber, que mostrou radiografias do dente para ilustrar o diagnóstico, o dentista apontou a presença de três abscessos na região de um canal previamente tratado, afirmando ser esta a causa de sintomas relatados por ela, como sinusites frequentes, inflamações gástricas, palpitações, dores no peito, crises de ausência, dores nas articulações, fadiga, entre outros. Após o encaminhamento para a extração, ela passou por mais diversos profissionais até arrancá-lo, e afirmou que a infecção havia chegado até o osso do maxilar.
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Ao mostrar fotos do dente em questão, que estava visivelmente infectado, Penny desabafou sobre as vivências dos último cinco anos, período no qual não teve a infecção bucal detectada. “Passei anos vendo médicos e especialistas e nenhum deles sabia o que havia de errado. Incontáveis médicos e dentistas me ignoraram, todos disseram: ‘Tudo parece estar bem’. Eu estava doente e sofrendo em silêncio. Se você está sofrendo de sintoma estranhos e inexplicáveis, considere procurar um dentista para examinar seus dentes por completo. Eu nunca soube que um dente poderia causar tanta agonia”, pontuou.
Um dia após à extração, logo ao acordar, a youtuber ainda retornou às redes sociais para compartilhar uma novidade: pela primeira vez em anos, ela disse não sentir dores nos seios da face ou fadiga extrema pela manhã. Agora, ela se recupera da cirurgia tomando antibióticos e espera se livrar dos sintomas por completo. “Posso finalmente começar a me curar”, comemorou Penny.
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Infecção no dente pode causar sintomas fora da boca?
Ainda que infecções como esta sejam geralmente associadas a dor e outros sintomas localizados, especialistas explicam que, em determinados quadros, o paciente pode, sim, vivenciar sintomas em outras partes do corpo. É o que explica Fernanda Campos de Almeida Carrer, coordenadora do Núcleo de Evidências e Análises Econômicas da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP), a Tá Saudável.
“A boca está ligada ao corpo e infecções e inflamações nela podem, frequentemente, resultar em sofrimento no corpo como um todo”, afirma a cirurgiã-dentista. De acordo com ela, quadros de saúde bucal já foram citados na literatura científica como causa de perda de rendimento por atletas de alta performance, partos prematuros e crianças com baixo peso (no caso de diagnósticos em grávidas) e endocardite bacteriana (entre pacientes com problemas cardíacos).
Além disso, a especialista pontua ainda que estruturas próximas à boca também estão bastante suscetíveis a apresentar sintomas em meio a um quadro de infecção silenciosa nos dentes. “Infecções de dentes podem contaminar estruturas profundas do pescoço, quadro que pode se agravar e ser letal se não tratado rapidamente. Dentes infeccionados, especialmente na parte superior da boa, também podem gerar sinusites, por exemplo”, afirma.
Já a odontologia holística, especialidade consultada pela influenciadora, também vê a relação entre infecções bucais e outras partes do corpo, mas propõe outras formas de conexão entre estas estruturas. Segundo a cirurgiã-dentista Sandra Sapienza, da clínica OdontoZen, cada dente corresponderia, segundo a este ramo da odontologia, a uma parte diferente do corpo.
“O dente sinaliza um meridiano no nosso corpo, um caminho. Quando há uma infecção grave, com múltiplos abscessos no canal, isso pode, sim, se espalhar para todo o corpo, gerando uma contaminação bacteriana naquele meridiano. Esse dente, o primeiro molar superior, está relacionado ao estômago, ao baço e ao pâncreas – então não é de se estranhar toda a sintomatologia de desconforto gástrico que a paciente relata”, afirma ela.
Ao ver imagens da radiografia de Penny compartilhadas pela própria youtuber, Sandra apontou ainda a presença de pontos de Neuralgia Induzida por Cavitação Osteonecrótica, condição mais conhecida como NICO. “A gente consegue perceber que existem pontos de NICO, pontos de necrose, de contaminação na raiz do primeiro molar superior. Quando a gente vê um quadro assim, ele já está relativamente avançado“, afirma.
Ambas as cirurgiãs-dentistas, inclusive, ressaltam que a falta de sintomas locais (ou a presença de sintomas de difícil percepção), é algo frequente. “A gente considera casos assim silenciosos porque o paciente não está relatando uma sintomatologia no dente, mas, se você for detalhista no exame clínico, vai perceber que, muitas vezes, ele pode relatar mau cheiro na região quando passa o fio dental, mau hálito”, afirma a dentista holística.
Fernanda, por sua vez, pontua que quadros assim podem até durar períodos longos. “O paciente pode conviver por anos com quadros que chamamos de crônicos e que, eventualmente, tornam-se agudos, e aí apresentam sintomas mais importantes, perceptíveis ao paciente”, afirma a cirurgiã-dentista, enfatizando que este é um dos muitos motivos pelos quais as visitas ao consultório odontológico devem ser periódicas mesmo quando tudo está aparentemente bem. Assim, doenças podem ser prevenidas ou identificadas cedo, e tratamentos menos invasivos podem ser oferecidos.
Casos de infecção exigem estração do dente?
Segundo Fernanda, a odontologia buscou, ao longo de sua história recente, evoluir a ponto de oferecer opções cada vez menos extremas, e isso inclui não extrair dentes como solução para uma infecção. Analisando para além do quadro descrito pela youtuber, a cirurgiã-dentista pontua que quadros infecciosos podem ser tratados. “Não me parece razoável pensar em mutilar uma pessoa por causa de uma infecção que pode ser controlada. Imagine se optarmos pela amputação quando um paciente tem uma erisipela”, comparou.
Além disso, Fernanda também afirma que dentistas estão aptos a adotar condutas mais completas de examinação para levar em conta sintomas fora da boca, evitando, assim, “soluções” drásticas.
Sandra, por outro lado, tem uma opinião diferente sobre quadros infecciosos em estágio avançado, e afirma que há situações nas quais extrair o dente pode ser algo a se considerar. “Muitas vezes, a gente acha que a gente está sendo preventivo ao manter o dente ali no arco, só que pelo contrário: a gente está, às vezes, salvando a vida do paciente ao removê-lo”, afirma a dentista holística, também sinalizando a necessidade de consultas preventivas e análise clínica para além da boca.
Aqui, é importante frisar que quadros de infecção bucais são diferentes uns dos outros – e isso reflete no tratamento. Ao ter uma extração recomendada, é importante buscar opiniões diferentes sobre o caso para avaliar a real necessidade de um procedimento como este, além de testar tratamentos que podem sanar o quadro (inclusive os sintomas pelo corpo) e preservar o dente.
Ao notar sintomas sem causa aparente, quadros de saúde (como sinusite) recorrentes e, é claro, sinais de que algo não vai bem com a saúde bucal, a recomendação é buscar um profissional de confiança e devidamente habilitado para investigar a situação.