Ator com COVID-19 tem perna amputada: o que se sabe sobre impacto do vírus na circulação?

por | abr 22, 2020 | Saúde

Após mais de duas semanas lutando contra um quadro grave de COVID-19, o astro da Broadway Nick Cordero teve de amputar uma perna após, segundo sua esposa, Amanda Kloot, desenvolver complicações da infecção pelo novo coronavírus. Até agora, a relação entre o SARS-CoV-2 e problemas vasculares não foi comprovada, mas a médica Aline Lamaita explica o que sabe atualmente sobre esta possível conexão entre os males.

Ator com COVID-19 tem a perna amputada

Em seu perfil no Instagram, Amanda vem dando notícias sobre o estado de saúde do marido e, recentemente, ela relatou essa piora no quadro seguida da drástica cirurgia. “Tivemos problemas com a perna direita dele, relacionados à coagulação, à chegada do sangue aos dedos do pé. Eles [médicos] tinham administrado anticoagulantes para [impedir] a coagulação e, infelizmente, eles causaram outros problemas”, disse ela.

Segundo Amanda, os medicamentos anticoagulantes foram responsáveis por um sangramento intestinal e, por isso, tiveram de ser descontinuados. Como a coagulação excessiva na perna do ator não pôde ser barrada, ela precisou ser amputada – e, agora, conforme contou sua esposa dois dias após a cirurgia, ele está se recuperando da melhor forma possível.

“Ele está bem, gente. O estado do Nick é o melhor possível agora. A cirurgia correu bem, ele está se recuperando bem dela, as feridas estão OK, ele não perdeu muito sangue, sua pressão sanguínea está OK, seu coração está OK, até o sangramento interno meio que cessou”, explicou a esposa do ator canadense, ainda incentivando a torcida para que o marido acorde bem.

Anticoagulantes em pacientes internados

Segundo Aline, angiologista membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), anticoagulantes são responsáveis por afinar o sangue e impedir sua coagulação, consequentemente diminuindo os riscos de o paciente ter problemas vasculares como a trombose, por exemplo. Estes remédios, porém, são usados de forma ampla em quaisquer pacientes internados com quadros graves, e não apenas nos com COVID-19.

“De forma geral, todos os pacientes com doenças graves – qualquer virose, qualquer outra situação clínica que cause uma internação a longo prazo – têm um risco aumentado de desenvolver trombose pelo fato de ficarem acamados, desidratados, com um processo inflamatório no corpo”, diz ela, explicando que, nestas situações, avalia-se os prós e contras de se administrar anticoagulantes para diminuir o risco deste mal.

“O benefício dele seria diminuir a incidência de trombose, mas como ele é um anticoagulante e impede que o sangue coagule, pode aumentar complicações, principalmente hemorrágicas”, afirma, ressaltando que idosos, pessoas que tenham aneurismas, problemas intestinais ou tumores são mais propensas a sangramentos e, por sua vez, correm alto risco de sofrer uma hemorragia ao usar estes remédios.

Além disso, conforme explica Aline, pacientes com quadros infecciosos graves que chegam à sepse (infecção generalizada) podem facilmente ser acometidos pela coagulação intravascular disseminada (CIVD), em que a coagulação do sangue ocorre de forma indiscriminada e, geralmente, afeta pernas, pés e mãos. Este mal não tem necessariamente relação com o novo coronavírus, e sua reversão pode envolver o uso de anticoagulantes, mas nem assim é garantida.

Possível relação entre novo coronavírus e circulação sanguínea

Ainda que, segundo a médica, este tipo de medicamento já seja parte de protocolos voltados para pacientes de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para prevenir trombose pela imobilização e outros males, porém, os anticoagulantes também têm sido usados em quadros graves de COVID-19 – e, conforme explica Aline, o motivo é uma possível relação entre o novo coronavírus e a circulação, algo ainda sem comprovação científica.

“Estão saindo muitos trabalhos científicos (pequenos, com casuística pequena, trabalhos mal randomizados) e está se percebendo que parece que o COVID-19 causa um aumento de trombogenicidade, ou seja, aumenta a incidência de quadros de trombose em base pulmonar e de trombose abdominal”, afirma a angiologista, ressaltando que estes estudos ainda não são suficientemente conclusivos.

Algo que está corroborando para essa discussão é o fato de que tanto ela quanto outros especialistas em saúde vascular têm identificado, nos últimos tempos, um aumento da incidência de trombose, especialmente em pacientes que recentemente tiveram alguma virose não identificada ou que testaram positivo para COVID-19.

“Nós estamos observando pacientes tranquilos, que estão em casa, tiveram um quadro de COVID-19 ou uma virose que não chegou a fechar diagnóstico e, uns dias depois, faz um quadro de trombose na perna”, diz a médica, ressaltando, porém, que não há como creditar esse aumento da incidência do problema vascular com o vírus em si, já que há outros fatores envolvidos.

“O problema é: como está todo mundo em quarentena ‘imobilizado’ na frente da televisão sem se movimentar, nós não sabemos se é alguma coisa relacionada ao vírus ou se tem relação com a quarentena em si. Era esperado mesmo que aumentasse a incidência de trombose por inatividade. Isso está colocando uma pulguinha atrás da orelha dos médicos, mas tudo são relatos, ainda não existe evidência científica”, conclui.

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