De tempos em tempos, internautas fazem “técnicas” relacionadas à saúde viralizarem nas redes sociais, mas elas nem sempre são seguras. Recentemente, foi isso que aconteceu com o ácido bórico, que vem sendo indicado especialmente no TikTok como uma substância eficiente no tratamento de condições de saúde íntima feminina, desde doenças até maus odores – mas que, segundo especialistas, não deve ser usada de forma indiscriminada como orientado pelos milhões de vídeos publicados na plataforma.
TikTok indica uso íntimo de ácido bórico e médica faz alerta
Especialmente no TikTok, um tópico de saúde bastante peculiar está em alta nas últimas semanas. Com milhões de visualizações, a tag “#boricacidsuppositories” (supositórios de ácido bórico) reúne uma série de vídeos nos quais internautas recomendam a substância para o tratamento de condições de saúde íntima – conselho que, na maior parte dos vídeos, parte de pessoas que não são profissionais da saúde.

Segundo os vídeos, os supositórios de ácido bórico – tipo de tratamento tópico que deve ser inserido no canal vaginal – ajudam a tratar candidíases, vaginoses e seriam úteis até no contexto de higiene íntima, como para “purificar” a vagina após o sexo e se livrar de odor vaginal. O ácido bórico, segundo especialistas, realmente tem uso clínico – mas não deve, em hipótese alguma, ser utilizado de forma indiscriminada como os vídeos indicam.
Conforme explica a médica Fabiane Gama, ginecologista e obstetra da Clínica Leger, unidade do Rio de Janeiro, a Tá Saudável, o ácido bórico é uma substância com ação antisséptica e antifúngica. Por este motivo, ele auxilia no tratamento de candidíases de repetição, tanto durante a infecção quanto por um período delimitado após a vigência dela. Atualmente, ele é usado na forma de óvulos que são inseridos no canal vaginal.

Apesar de ter um uso clínico, porém, usar o ácido bórico sem acompanhamento médico, para fins inadequados e de forma exagerada, segundo a médica, pode trazer problemas ainda maiores que as questões para as quais a substância vem sendo indicada na internet. É possível, por exemplo, que uma pessoa use ácido bórico para “higienizar” a vagina e se livrar de odores, mas acabe com uma vaginose de repetição.
“Não é seguro usar o ácido bórico por conta própria porque as pacientes podem ter efeitos colaterais. Ele deixa o pH instável e altera toda a flora. Em vez de melhorar, pode acabar piorando”, pontua a ginecologista, afirmando que, quando o uso da substância é exagerado, a paciente tende a apresentar sensação de queimação e corrimento exagerado.

Devido às possíveis complicações, a médica aconselha que mudanças no odor natural (que não deve ser forte) e nas secreções vaginais (como a ocorrência de um corrimento amarelo-esverdeado) devem ser acompanhadas e tratadas por um médico. Além disso, ela lembra ainda que, apesar de a vulva ter de ser higienizada de forma suave, a vagina não precisa – e nem pode – receber qualquer produto de higiene.
“Intravaginal, em hipótese alguma deve ser lavado, higienizado ou colocado algum produto para limpar. A mucosa tem uma barreira protetora e o próprio pH fica ácido para proteção do canal, para não deixar bactérias e fungos que ali estão presentes se proliferarem exageradamente e se tornar algo patológico”, conclui, frisando que isso vale tanto para o uso do ácido bórico visando “higiene” quanto para outros produtos.