mudanças cerebrais

Adolescência até os 32 anos? Estudo determina 4 pontos de “virada” no desenvolvimento cerebral

O robusto estudo sobre mudanças cerebrais mostrou que a maturidade mental não acontece na faixa etária dos 20 aos 25 anos – e que o cérebro muda, prioriza ou “poda” certas conexões ao longo da vida

Um extenso estudo publicado recentemente pode mudar a forma como a maturidade mental em diversas idades é vista. Observando o cérebro humano e as mudanças pelas quais ele passa ao longo da vida, pesquisadores descobriram, por exemplo, que a “maturação” do cérebro continua até os 32 anos – e que, até essa idade, seres humanos ainda estariam na adolescência.

Estudo aponta mudanças cerebrais drásticas em 4 idades

mudanças cerebrais
(Crédito: geralt/Pixabay)

O ser humano passa por várias mudanças cerebrais ao longo da vida. Ao contrário do que muitos imaginam, ele não para de se desenvolver em uma certa idade, mas, sim, tende a passar toda a vida se adaptando e se reorganizando. Um estudo recente, inclusive, mostrou que há quatro “viradas” significativas desse processo.

Publicado no periódico científico Nature, o estudo em questão demonstrou que os seres humanos vivem verdadeiras transformações cerebrais em quatro principais idades: aos 9, aos 32, aos 66 e aos 83. Nesses momentos, chamados de fases de reorganização topológica, a forma como os neurônios se conectam, se estruturam e se comunicam tende a ser reorganizada.

As descobertas acerca dessas fases trouxe uma série de pontos de reflexão. Ela desbanca, por exemplo, a ideia de que o ser humano se torna “pleno” na faixa etária dos 20 aos 25 anos. Além disso, as descobertas sugerem que há “janelas” de maior vulnerabilidade no cérebro – ou seja, momentos nos quais ele está mais propenso a mudanças importantes (sejam elas positivas ou negativas). 

Há certas idades, portanto, em que uma pessoa pode se traumatizar mais facilmente, ou sofrer as consequências de eventos difíceis com mais intensidade. Nessas mesmas épocas, porém, o aprendizado também fica mais fácil de acontecer.

Veja o que se descobriu sobre cada uma das fases:

Infância (dos 0 aos 9 anos)

Durante esse período, em que a criança passa de recém-nascida para uma infância “estruturada”, há a consolidação da rede cerebral. O cérebro de um bebê recém-nascido é muito ativo, com muitas sinapses e conexões – mas, para que as redes principais se estabilizem, as conexões menos usadas são “podadas”.

É por isso que, nesta fase, ocorrem marcos do desenvolvimento cognitivo, comportamental e social da criança, como crescimento rápido, aprendizado e adaptações de forma geral.

(Crédito: kjpargeter/Freepik)

Da adolescência ao início da fase adulta (dos 9 aos 32 anos)

Nessa fase, a topologia cerebral continua sendo refinada. Nela, há crescimento da matéria branca, melhora da conectividade e aprimoramento da eficiência na comunicação interna e externa das regiões do cérebro.

O ápice dessa fase ocorre em torno dos 32 anos, onde os autores do estudo identificaram como o ponto de virada mais forte de todo o ciclo da vida. Nele, há a maior mudança de todas na “arquitetura” do cérebro, sugerindo que o ser humano atinge a maturidade cerebral apenas nessa faixa etária – e não antes, aos 20 ou 25 anos, como se supõe.

Vida adulta intermediária (dos 32 aos 66 anos)

Após os 32 anos, a topologia cerebral ainda muda, mas de forma diferente. Há, por exemplo, o declínio gradual de algumas medidas de integração – ou seja, da forma como as áreas do cérebro se comunicam entre elas.

Essa perda gradual de eficiência das conexões pode, segundo a pesquisa, estar relacionada a eventos que geralmente marcam essa fase da vida. É o caso, por exemplo, de um aumento no ritmo de trabalho, a chegada de filhos, entre outras questões.

Envelhecimento precoce (dos 66 aos 83 anos)

Outro ponto de virada ocorre aos 66 anos e, nele, começa outra mudança no cérebro. Há conexões mais estáveis dentro de cada uma das regiões dele – mas a comunicação entre essas regiões passa a ficar prejudicada.

Esse padrão pode explicar por que pessoas nessa faixa etária podem ficar mais esquecidas ou apresentar lentidão de pensamento. Além disso, as mudanças também coincidem com o aumento do risco de doenças neurodegenerativas, como demências.

Idade avançada (dos 83 aos 90 anos)

Aos 83 anos, o ser humano entra em sua fase final de topologia cerebral. Nela, há declínio progressivo da conectividade entre as áreas do cérebro, fazendo com que ele funcione mais “apoiado” na forma como cada região trabalha individualmente.

O cérebro do idoso tem, portanto, menos recursos – e passa, por isso, a otimizar áreas estratégicas do órgão.

Como o estudo sobre mudanças cerebrais foi feito

Neurônios (Crédito: vecstock/Freepik)

Autores do estudo se baseiam em exames de neuroimagem de mais de 4.2 mil participantes entre 0 e 90 anos de idade. Esse exame rastreia a trajetória de fibras nervosas, mostrando a conectividade estrutural do cérebro.

Para cada cérebro avaliado, pesquisadores da Universidade de Cambridge (Reino Undo) e da Universidade de Pittsburgh (nos Estados Unidos) calcularam 12 métricas para “medir” a topologia cerebral. Assim, foi possível observar a integração entre diferentes áreas, a segregação de áreas “especializadas”, a centralidade (quais áreas o cérebro prioriza em cada idade) e mais.

Ainda que o estudo traga descobertas importantes sobre o desenvolvimento cerebral, porém, ele tem limitações. Isso porque a amostra de pessoas na fase final (entre 83 e 90 anos) foi menor, diminuindo a quantidade de informações disponíveis para a faixa etária.

Mais sobre bem-estar