Dormir pouco e manter as funções cognitivas intactas ao longo do dia é um desafio que pode estar ligado a mutações genéticas, segundo a ciência
De certo, muita gente se pergunta qual é o segredo de quem dorme pouco, mas não vê prejuízos disso no bem-estar e na produtividade. A ciência, porém, já caminha para responder essa pergunta, e experimentos mostram que uma simples mutação em um gene específico está ligada ao fenômeno do “sono curto natural” que não prejudica o desempenho ou a saúde. Veja detalhes abaixo:
Dormir pouco, mas ficar bem pode ter influência genética
Em estudos sobre sono, pesquisadores vêm, nos últimos anos, notando uma relação entre o gene SIK3 e a necessidade que um ser vivo tem de dormir. Em 2025, um estudo publicado no periódico científico Proceedings od the Natural Academy of Sciences (PNAS), por exemplo, levantou que a mutação N783Y nesse gene está ligada a uma necessidade reduzida de sono (ou seja, dormir pouco sem ter prejuízos durante o dia).

Indivíduos que têm essa mutação no gene SIK3, segundo o estudo, dormem naturalmente por períodos de 5 a 6 horas por noite, mas não enfrentam prejuízos cognitivos por isso. O padrão de sono reduzido delas gera o mesmo bem-estar e a mesma produtividade de quem dorme por períodos de 7 a 8 horas por noite, quantidade de sono geralmente indicada por especialistas.
O fenômeno foi, inclusive, replicado em roedores. No experimento, camundongos geneticamente alterados com a mesma mutação exibiram padrões de sono reduzido. Em geral, esses animais dormem por períodos de 12 horas – e, após a mutação, passaram a naturalmente dormir 31 minutos a menos, em média.

Mais sobre a genética do sono
As descobertas da “genética do sono”, inclusive, não param por aí. Essa pesquisa corrobora, por exemplo, com outro estudo conduzido pela Universidade de São Paulo (USP) em 2020, que investigou a associação entre o gene HOMER1 e os hábitos de sono de pessoas de São Paulo.
Nessa pesquisa, foram examinados exames de sangue e polissonografias de mais de mil voluntários do EPISONO (Instituto do Sono). Ela descobriu que uma variação específica nesse gene está ligada a uma maior resistência à sonolência. Isso significa que essas pessoas conseguem ficar acordadas por mais tempo sem prejuízos mesmo quando privadas de sono.

Além disso, essas pessoas despertam menos ao longo da noite e formam um grupo com menores índices de apneia do sono. Por outro lado, elas demoram mais para adormecer e têm um sono menos reparador.
Esses estudos abrem caminho para mais descobertas sobre a relação entre o sono e a genética – bem como a elaboração de tratamentos mais personalizados para distúrbios do sono ou sensação de que se está sempre cansado mesmo após um longo período dormindo.