Não exagerar no álcool, tentar não fumar, beber muita água, mas sem ficar de barriga cheia, e que não seja muito gelada… Para algumas pessoas, só essas recomendações já são quase um suplício. Mas há outras, mais simples, que devem ser seguidas à risca ao cair na folia. “Os fatores bebida e barulho são muito prejudiciais. Só o fato de você estar no meio de um bloco de carnaval ou de um lugar com música alta, pro exemplo, já pode trazer problemas, pois se quiser falar com outra pessoa, vai gritar para ser ouvido. Em ambientes assim, falar mais alto é abusar da garganta, porque força as pregas vocais”, observa Ronaldo Frizzarini. A fonoaudióloga Maria Gabriela Cunha, do Hospital das Clínicas de São Paulo, concorda. “Além das mudanças de temperatura, as alterações no tom de voz podem prejudicar o bom funcionamento das pregas vocais, que são muito sensíveis. Num lugar barulhento, não tente competir com o som. Se quiser conversar com alguém e a pessoa não te ouvir, fale perto do ouvido dela, para não ter que elevar a voz”, afirma ela.
Mas não são apenas os gritos que fazem mal à saúde vocal. Sussurrar também é ruim, segundo os otorrinolaringologistas Franz de Almeida e Ronaldo Frizzarini: “Assim como falar alto, cochichar força a voz e causa tensão nas pregas vocais”, esclarece Ronaldo. Para quem já usou e abusou do gogó, a dica é fazer repouso e falar o mínimo possível. “Quanto menos conversar, melhor. E, quando disser algo, não tente falar mais alto ou sussurrar porque está rouco. Use a voz no tom normal”, alerta Franz. Se houver disfonia (problema com a voz), evite também cair na tentação de tossir ou pigarrear, o que causa atrito nas pregas vocais. O incômodo vai passar mais rapidamente (e de forma mais saudável) ao beber água e ficar em silêncio.
Os exercícios de respiração, ou aqueles que ajudam na mobilidade da onda mucosa, podem ser feitos por qualquer um
Cerca de 25% da população geralmente apresenta algum tipo de lesão nas cordas vocais, por diversos fatores. Apesar de comum, é preciso estar atento à possibilidade de doenças mais graves. “Às vezes, o trauma nas pregas vocais é tão grande que causa hematomas no local, que podem alterar até de maneira definitiva o seu funcionamento. É claro que alguns abusos esporádicos não vão gerar um câncer de laringe, por exemplo, mas é bom reparar na duração da disfonia. Se a rouquidão não melhorar em três ou quatro semanas, deve-se procurar um médico”, indica Ronaldo Frizzarini.
Soltando a voz no carnaval
A fonoaudióloga Maria Gabriela Cunha diz que, para as pessoas que vão apenas curtir a folia, não é necessário nenhum tipo de exercício para a garganta. Mas, caso alguém queira se arriscar no microfone, o aquecimento e o desaquecimento são mais do que válidos. “Os exercícios de respiração, ou aqueles que ajudam na mobilidade da onda mucosa, podem ser feitos por qualquer um, com o acompanhamento de um profissional, mas são mais aconselhados aos cantores. Os sambistas e puxadores de samba, por exemplo, geralmente recebem orientação e fazem exercícios antes de cantarem e nos intervalos. Como alguns não têm uma higiene vocal muito boa, ou fumam e bebem, são mais propensos a alterações na voz, então esse trabalho é essencial”, frisa a fonoaudióloga.
Gilsinho, intérprete do Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, do Rio de Janeiro, confirma que sempre exercita a voz e controla a respiração para ter um bom desempenho na Avenida. Voz da agremiação há dois anos, o puxador de samba garante que evita bebidas geladas, bebe muita água e não fuma, além de tomar outros cuidados para não desafinar. “Tenho aulas há três anos de canto e faço sempre exercícios de aquecimento antes de soltar a voz no Sambódromo. Para cantar, tento me guiar mais na técnica do que na ‘raiva’, para não forçar a garganta”, diz. E depois? “Bom, depois eu vou tomar uma cervejinha, porque ninguém de ferro…”, brinca.
Seguindo as dicas dos médicos, não há erro. Dá para chegar até a quarta-feira de cinzas sem perder a voz. Mesmo para quem não é cantor profissional, vale ter um pouco mais de cuidado e atenção com a laringe também neste período, afinal, todo carnaval tem seu fim…