Mal o ano se inicia e os foliões de plantão já começam a se preparar para o carnaval. Quem gosta da farra e da alegria do feriado não resiste a um bloco de rua, um trio elétrico, um desfile de escola de samba… E em pleno verão tupiniquim, também não nega uma latinha (ou várias) de cerveja gelada para agüentar tanto tempo pulando, dançando e cantando, não é mesmo? Mas quando chega a quarta-feira de cinzas, além da ressaca, surge aquela característica rouquidão. Onde foi parar a sua voz?
É, o calor e o carnaval parecem tornar o mês de fevereiro perfeitamente apropriado para a combinação música alta/chope gelado. Mas, para a laringe, essa conjunção é um perigo, um atentado. A voz é o som produzido nesta região, por meio do ar que passa pela laringe e faz vibrar as pregas vocais. Então, se você não tomar os cuidados necessários e tentar acompanhar a bateria da escolade samba no gogó, pode dar adeus à sua voz, tal e qual a conhece, por algum tempo. E se você não se importa de cultivar esses maus hábitos, é bom ficar atento para não ter que se despedir dela de vez.
O melhor para hidratar a laringe é mesmo a água. De preferência natural, pois as gasosas pioram a irritação. A água de coco e os sucos são boas opções, assim como isotônicos
O otorrinolaringologista Franz de Almeida, do Hospital Universitário Antônio Pedro, da Universidade Federal Fluminense (UFF), no Rio de Janeiro, afirma que um dos principais vilões da voz é o choque térmico. A variação de temperatura é muito freqüente durante esta época do ano – ficamos sob o sol escaldante, entramos em ambientes com ar-condicionado, tomamos sorvetes e bebidas geladas para refrescar o corpo quente etc – e a garganta não resiste a essas alterações bruscas. “É claro que não dá para ficar tomando coisas quentes, mas deve-se evitar bebidas muito frias. O ideal é que o líquido esteja entre 20 e 22 graus”, aconselha o otorrinolaringologista, que aponta outro grande inimigo, o álcool. “Quem gosta de carnaval acaba cantando e bebendo muito, o que não é bom. O álcool dilata os vasos na garganta, incha as cordas vocais e deixa a musculatura da região mais flácida. Aí já sabemos o resultado: aquela voz rouca, conhecida como ‘voz de bêbado'”, alerta. Franz recomenda, para quem não consegue dispensar uma loura gelada, que tome alguns cuidados. “Se beber muito, não grite, e se hidrate bastante, com muita água”.
Franz de Almeida cita outro problema do consumo de álcool para a voz, o refluxo. “O refluxo é o retorno do conteúdo ácido do estômago. Quando acontece, queima a mucosa da laringe, onde ficam as pregas (popularmente conhecidas como cordas) vocais. Um dos sintomas do refluxo é a azia”, explica. Alimentos ácidos ou que contenham cafeína, como refrigerantes, chás, mate, café e até chocolate, também devem ser evitados para não irritarem ainda mais a região. “O melhor para hidratar a laringe é mesmo a água. De preferência natural, pois as gasosas pioram a irritação. A água de coco e os sucos são boas opções, assim como isotônicos como Gatorade, que repõem substâncias como o potássio”, menciona o médico.
O otorrinolaringologista Ronaldo Frizzarini, da Academia Brasileira de Laringologia e Voz, em São Paulo, enfatiza que a hidratação precisa ser feita, com algumas ressalvas. “Deve-se beber muita água, mas não de uma só vez. Ficar com o estômago cheio deixa o órgão tenso e provoca refluxo também. É melhor que se beba pouco a pouco, durante o dia. Se optar por sucos, não exagere nos cítricos, pois são mais ácidos”, recomenda Ronaldo, lembrando ainda que os fumantes são muito mais propensos a problemas vocais. As toxinas presentes no cigarro e em outras drogas irritam a mucosa das vias aéreas.