Se dirigir, não beba…

Aqueles que não dispensam um chopinho com os amigos na sexta-feira, adoram almoçar tomando um cálice de vinho ou não conseguem ir para a balada sem antes fazer a “concentração” (leia-se “calibrar”) agora estão tendo que tomar cuidado extra ao pegar o carro. A nova Lei 11.705, que altera o Código de Trânsito Brasileiro, proíbe o consumo de qualquer quantidade de bebidas alcoólicas por condutores de veículos. Quem for flagrado dirigindo depois de beber, além da multa de quase mil reais, perde a carteira de motorista por 12 meses. E quem tiver mais de seis decigramas de álcool por litro de sangue ainda pode pegar pena de até três anos de prisão. Mesmo horas depois da ingestão, durante uma forte ressaca, o bafômetro é capaz de detectar alguns decigramas de álcool no motorista. Mas os prejuízos que a bebida traz não são apenas multas: o corpo também sofre com o excesso de álcool.

O ideal é sempre comer antes de beber. E, de preferência, comidas gordurosas. Embora sejam particularmente ruins para o organismo, elas atrasam a absorção do álcool

O problema é ainda mais grave para as mulheres. Segundo especialistas, o álcool tende a ficar mais concentrado e por mais tempo no organismo feminino. Isso porque, além das diferenças de hormônios e enzimas em relação ao homem, o corpo da mulher é normalmente mais leve e com menos quantidade de água. O peso total e a gordura influem na administração do álcool etílico (ou etanol). “A quantidade de gordura modifica e retarda a absorção do álcool. E como as mulheres em geral têm menos peso, o álcool provoca maior efeito e maior prejuízo para elas”, explica o vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), José Alves Lara Neto.

Na verdade, os efeitos do álcool não diferem significativamente no organismo do homem ou da mulher. Como esclarece o médico e psiquiatra Sergio Seibel, da Associação Médica Brasileira (ABM), o que acontece é uma diferenciação na metabolização da substância em mulheres, que é diferente da dos homens. “Elas apresentam sinais de embriaguês mais rapidamente. Tal fato é explicado pela maior proporção de tecido gorduroso, pelas variações do álcool no decorrer do ciclo menstrual e pelas diferenças enzimáticas da desidrogenase alcoólica, que age no metabolismo do álcool”, acrescenta Seibel.

Por intensificar – ou acelerar – os efeitos nas mulheres, o consumo de álcool é mais perigoso para pessoas do sexo feminino. É recomendável, portanto, que elas bebam menos que os homens. “A mulher que toma a metade da dose de um homem apresenta o mesmo nível de embriaguez, com as mesmas conseqüências, que ele”, aponta o nutrólogo José Alves Lara Neto. É bom, então, ficar esperta. Outra dica, que vale para ambos os sexos, é evitar a ingestão de bebida alcoólica em jejum. “O ideal é sempre comer antes de beber. E, de preferência, comidas gordurosas. Embora sejam particularmente ruins para o organismo, elas atrasam a absorção do álcool”, indica o médico. Ao ser consumido, o etanol passa rapidamente do aparelho digestivo para a corrente sangüínea. A concentração que vai para o sangue depende de vários fatores (a dose tomada, a quantidade de comida no estômago, a massa corporal e o metabolismo da pessoa). Quando já está no sangue, nada mais pode interferir em seus efeitos.

Exagerando na dose

Mas será que o álcool é tão prejudicial assim? Muitos acham que a tal “lei seca” nas estradas é um exagero. No entanto, os médicos advertem que a ingestão dessas bebidas pode trazer problemas até para quem não é considerado alcoólatra ou alcoolista (quem não consegue deixar de beber). “Não é necessário ser dependente para apresentar problemas relacionados ao consumo agudo de álcool ou outra substância psicoativa (outra droga qualquer). Todas as formas de bebidas alcoólicas alteram da mesma forma as funções psíquicas e físicas, respeitando-se a equivalência de doses”, afirma o médico Sergio Seibel. Para saber a equivalência, anote: uma caneca de 350 ml de cerveja equivale a um copo de 140 ml de vinho tinto, que é equivalente a uma dose de 40 a 50 ml de destilado, como uísque, por exemplo.