O inverno é considerado a estação mais charmosa do ano. Faz um frio danado, mas há quem diga que é muito mais interessante sair por aí com roupas mais elegantes, encontrar os amigos para tomar uma bebida quente e bater papo e dividir pilhas de cobertores com a pessoa amada. Só que, para pelo menos 40% da população, essa época do ano também é sinônimo de rinite alérgica, uma inflamação no nariz que pode aparecer em qualquer época do ano, mas costuma dar o maior trabalho nos dias mais frios. Além de conviver com uma irritação constante nas vias nasais, quem sofre do problema tem a qualidade de vida afetada: não dorme nem trabalha direito, pois vive sob os efeitos da alergia – que vão desde coceiras e espirros até dificuldade de respirar. E, como ainda não existe cura, o negócio é apelar para os diversos tratamentos e, claro, para a prevenção.
A rinite é causada por uma reação inflamatória do organismo contra alérgenos, ou seja, substâncias que provocam alergia. Isso costuma acontecer quando a pessoa inala algum agente ao qual ela não tem tolerância. Os mais comuns são a poeira doméstica, ácaros, fungos, pólen e pêlo de gato ou cachorro. Mas não é só isso: até mesmo poluentes atmosféricos, como fumaça de cigarro, óleo diesel e produtos químicos podem causar alergia – só que estes agem mais como irritantes da mucosa nasal. Uma vez dentro das vias respiratórias, esses agentes podem provocar uma série de sintomas, como crises de espirros, prurido (coceira), coriza e obstrução nasal. Podem ocorrer também conjuntivite alérgica, coceira no céu da boca e na garganta.
Os incômodos da rinite aparecem em pessoas de qualquer idade, a qualquer momento da vida. E as crises são bastante comuns na infância . “Desde pequeno eu tinha crises de rinite, que me tiravam o sono. Tinha muita coriza, coceira no nariz, espirrava muito. Para dormir, eu apelava para os descongestionantes nasais, que funcionavam bem. Só que, com o passar dos anos, as crises foram piorando. Então, decidi procurar um médico, que receitou um tratamento com anti-alérgicos. O tratamento foi longo, durou uns seis meses, mas melhorei bastante”, conta o estudante André Sá. Depois do tratamento, conta ele, as crises foram ficando cada vez mais raras.
De pai para filho
O mais surpreendente é notar que muitas vezes podemos encontrar famílias inteiras alérgicas. “Existe uma predisposição genética não hereditária, mas familiar. Quando um dos pais é alérgico, há 35% de chances de o filho possuir rinite alérgica. Quando o pai e a mãe são alérgicos, essa probabilidade sobe para 80%”, destaca o otorrinolaringologista Silvio Bettega, professor da faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná e médico do Rinocenter – Centro de Diagnóstico e Tratamento das Rinites, em Curitiba. Segundo o médico, o inverno é mesmo um período de grande incidência de rinite alérgica não só por causa do frio, mas também por conseqüência dos hábitos adotados nessa época do ano. “As pessoas ficam confinadas em ambientes fechados, com pouca ventilação, e mais propensas ao contato com os alérgenos, como o pó e o ácaro. Também usam roupas que estão há muito tempo guardadas, que podem juntar mofo. Além do mais, a presença de doenças virais, como a gripe, acabam produzindo na mucosa nasal um processo inflamatório semelhante ao das rinites”, afirma ele.
Diagnóstico e tratamento
Para decepção de quem sofre do problema, a rinite alérgica não tem cura. No entanto, ela pode ser controlada com diagnóstico correto, tratamento adequado e acompanhamento de um otorrinolaringologista. “É sempre importante consultar um médico, pois existem vários tipos de rinite. Durante o exame, o médico pode verificar a presença de problemas dentro do nariz, como o desvio de septo, que pioram os sintomas da rinite ou dificultam o uso das medicações tópicas nasais”, informa o Dr. Silvio Bettega. Só depois de um rigoroso exame – que pode incluir testes de alergia com a aplicação de diversos alérgenos sobre a pele do paciente – é que o tratamento vai ser definido.
Em geral, são usados anti-histamínicos (anti-alérgicos), corticóides de uso nasal e, dependendo do grau da rinite, vacina. Quem já fez uso dela, como a estudante Fernanda Lopes, garante que ele traz bastante alívio. “Eu tinha a maior dificuldade para dormir durante as crises de rinite, pois não conseguia respirar direito. Usei e abusei dos descongestionantes nasais, mas o efeito não durava a noite toda. As estratégias de mudar de posição na cama, ajeitar os travesseios e até dormir sentada não adiantavam nada. Depois que fiz o tratamento com a vacina, melhorei tanto que passei pelo menos três meses maravilhosamente bem, sem ver nem sombra dos sintomas da rinite”, conta ela. É, a vacina funciona, mas seu efeito é temporário e depende muito da gravidade da rinite. Mesmo assim, vem sendo adotada por bastante gente. “Ela é segura, desde que seja prescrita e aplicada por um médico especialista”, ressalta o Dr. Silvio.
Asma versus rinite
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, é comum encontrar pacientes que sofrem, além da rinte, de asma também – e vice-versa. Pesquisas apontam que cerca de 40% dos pacientes com rinite têm asma e até 80% dos asmáticos sofrem com os sintomas da rinite. Isso porque a asma também é causada pela exposição a fatores alérgicos, causando inflamações na mucosa respiratória – daí a tendência de se desenvolverem ambas as doenças. Aliás, hoje acredita-se que um bom tratamento de rinite alérgica pode até ajudar a controlar as crises de asma. Por isso, é importante avisar ao médico também sobre a presença da asma, para que o tratamento seja o mais eficiente possível.
Atitudes
Para o Dr. Silvio Bettega, a melhor maneira de evitar o aparecimento da rinite ainda é a prevenção. A começar pela limpeza da própria casa. “Retirar do ambiente tudo o que possa atrair os alérgenos, como carpetes, tapetes, cobertores, cortinas e bichos de pelúcia, já ajuda bastante”, observa. Para ele, sempre que houver suspeita de rinite alérgica, é melhor procurar um médico especialista. “Ele dará todas as orientações necessárias não só para prevenir a rinite, mas também da melhor forma de tratá-la. Cada caso é um caso, então uma avaliação correta é essencial para definir qual o melhor tratamento”, recomenda o otorrinolaringologista.