Reféns da TPM

“Ih, aposto que você está naqueles dias”. Levanta aí a mão quem já ouviu isso de amigos, parentes, colegas de trabalho e até do namorado ou marido, depois de descontar neles um pouco da nossa velha amiga TPM. Se você é uma delas, saiba que não está sozinha. A desordem disfórica pré-menstrual, carinhosamente chamada de TPM, atinge aproximadamente 75% das mulheres. E, na maioria delas, pode transformar o período que antecede à menstruação em um verdadeiro inferno. Além dos mais de 150 sintomas, a TPM também pode interferir negativamente no comportamento feminino, afetando os relacionamentos pessoais, afetivos e profissionais. E tem mais: em alguns casos a interferência no humor é tão severa que pode ser relacionada a altas taxas de suicídio, faltas ao trabalho ou às aulas e até mesmo a crimes envolvendo mulheres.

A final, o que é a TPM?

Existem muitas hipóteses sendo levantadas pelos especialistas para explicar as causas desse fenômeno chamado TPM – ou melhor, Síndrome Pré-Menstrual, como é chamada na literatura médica. A mais comum é de que os hormônios sexuais, durante o ciclo menstrual, interferem no sistema nervoso central. Ou seja: alterações no estrogênio e na progesterona poderiam afetar os neurotransmissores, como a serotonina, e também as substâncias naturais ligadas à sensação de prazer, como as endorfinas. O resultado seria o desequilíbrio emocional. Mas essa bagunça também tem conseqüências físicas. As alterações hormonais podem provocar retenção de líquidos, inchando o corpo da mulher. E o inchaço já seria causa suficiente para provocar irritação, mau humor e ansiedade.

Primeiro eu fico tremendamente irritada. Depois vem a etapa do choro, em que qualquer besteirinha me emociona. E a vontade imensa de comer doce aumenta muito nesse período

Outros especialistas apontam que algumas deficiências nutricionais, como a de magnésio e das vitaminas A e B6, agravam os sintomas. Mas o curioso é notar, segundo pesquisas, que algumas mulheres que sofrem com TPM já apresentam algum tipo de problema emocional: 11% são portadoras de algum distúrbio de humor, como a depressão. E 5% delas sofrem com transtornos alimentares, como anorexia ou bulimia. A hereditariedade também vem sendo apontada como causa do problema. Em 1998, uma pesquisa mostrou que 36% de uma amostra de mulheres com TPM relataram que suas mães também tinham esse problema, e 45% tinham familiares portadores de transtornos emocionais sem especificação. E 73% das pacientes com TPM contaram que tinham histórico familiar de pessoas com depressão.

Característic as

Apesar de parecer que todas as mulheres sofrem com a TPM da mesma forma, os sintomas são diferentes de uma para a outra. Segundo o médico ginecologista Ricardo Vasconcellos Bruno, as queixas mais comuns apresentadas em consultório médico podem ser divididas em quatro alterações importantes. “A primeira é a retenção de sódio e água, que causa inchaço e ganho de peso; a segunda são alterações no sistema nervoso central, resultando em alterações do humor e irritabilidade; a terceira é a presença de cólicas uterinas, lombalgias, cefaléias e outras dores; por fim, as alterações endócrinas, como o descontrole dos hormônios estrogênio e progesterona”, cita.

Mas a lista de sintomas é gigantesca. Depressão, pensamentos auto-depreciativos, ansiedade, tensão, nervosismo, diminuição do interesse pelas atividades habituais, dificuldade de concentração, alteração no apetite, cansaço, falta de energia, problemas na qualidade do sono, tristeza repentina, choro fácil, carência afetiva, sensibilidade nas mamas e em outras partes do corpo, dores musculares, ganho de peso, agressividade, sensação de estar fora de controle, enjôos, enxaqueca, vômitos, excitação, problemas de pele… Ainda assim, para esses sintomas sejam efetivamente considerados TPM, é importante que interfiram nas atividades cotidianas da mulher e só ocorram na fase pré-menstrual e não no ciclo inteiro.

A gerente de marketing Flavia Fernandes, de 31 anos, sabe muito bem o que é perder um dia inteiro de trabalho por causa da TPM. Sempre que a chegada da menstruação está se aproximando, começam as dores de cabeça. Que, com o passar das horas, vai se transformando em uma bela enxaqueca. “Como se já não bastasse a cabeça latejando sem parar, começo a ficar enjoada. Logo depois, vêm os vômitos. Isso me deixa um lixo, totalmente incapacitada para o trabalho. O jeito é ficar de cama, tomar a medicação e esperar esse inferno passar”, lamenta. Já a assistente de atendimento Valéria Nogueira, 26, sofre com a retenção de líquidos. “A impressão que eu tenho é de que engordei vários quilos. Dá uma sensação de desconforto muito grande, que me tira totalmente o bom humor”, conta.

Aspectos comportamentais

Segundo a psicanalista Beth Valentim, os fatores físicos e comportamentais na TPM podem atuar significativamente na vida da mulher, pois mexem com o humor de maneira impressionante. “Nesse período, ela tem fome especificamente de alguns alimentos, como o chocolate. Por alteração do nível de serotonina, sente falta de doces. Ao mesmo tempo em que fica louca para comê-los, sente culpa por não conter esse desejo. A ansiedade fica multiplicada por mil”, aponta. Isso sem falar nas lamúrias constantes e no choro fácil.

Que o diga a relações públicas Maria Augusta Sorio, de 21 anos. “Primeiro eu fico tremendamente irritada. Depois vem a etapa do choro, em que qualquer besteirinha me emociona. E a vontade imensa de comer doce aumenta muito nesse período”, conta. A família, segundo ela, sai de perto quando ela está de TPM. E o namorado, Phillipe, ficou bem assustado quando passou pela fúria pré-menstrual de Maria Augusta pela primeira vez. “Não é exagero, não. Eu mudo mesmo da água para o vinho”, afirma.

Aliás, são os namorados e maridos os que mais sofrem, diz Beth Valentim. “As mudanças de humor da mulher as tornam muito chatas, e os homens não têm muita paciência com isso. E a vontade de discutir a relação? Aumenta ainda mais na TPM. É difícil dar um basta nessas sensações, pois elas vêm como uma avalanche, e muitas mulheres não sabem como assumir o controle. A culpa vem e elas se sentem derrotadas. Choram. E os homens ficam pasmos, sem saber o que fazer. Evidentemente eles não foram criados sabendo sobre a TPM”, observa.