Questão de pele

Você acorda um belo dia no maior alto astral até dar de cara com o espelho e notar aquela bolinha vermelha. Não é uma bolinha qualquer, é um senhor calombo. Eles nunca são discretos, já notou? Parece que é de propósito: as temidas espinhas insistem em aparecer bem na ponta do nariz, no meio da testa ou da bochecha. Isso quando não tomam o rosto inteirinho, formando verdadeiros complexos. Espinhas, cravos, comedões… Quanta complicação! Mas saiba que isso tudo é acne. E, mais do que um problema estético, ela é uma doença – bastante comum, mas que precisa ser tratada, porque pode afetar sua auto-estima e, é claro, sua saúde.

Decifrando a doença

Não é verme, nem ácaro ou qualquer outro tipo de bicho, como reza a lenda. Segundo a dermatologista Osvania Maris, a acne é, na verdade, causada principalmente por dois tipos de microorganismos: as bactérias Propionybacterium acnes e Staphylococcus epidermides. Elas atuam no sebo excretado pelas nossas glândulas sebáceas através dos poros da pele, por onde saem os pêlos. O poro bloqueado pelo excesso de sebo e de pele morta favorece, então, o surgimento dos cravos: brancos (fechados) ou pretos (abertos, já oxidados pelo ar) – os populares comedões.

A pessoa pode estar jogando dinheiro no lixo com cremes e demais produtos que prometam a cura, mas que não resolvem nada. O uso de produtos cosméticos inadequados e fórmulas caseiras não resolvem

Quando os poros entupidos inflamam, o que não é raro acontecer, aí sim surgem lesões avermelhadas, geralmente doloridas, com ou sem pus, e que podem coçar. É o que chamamos de espinhas – acne inflamatória. De acordo com a dermatologista Denise Steiner, elas são superficiais ou mais profundas, formando pústulas, pápulas (sem pus) e cistos (espinhas internas). A aparência pode ser desagradável, mas, de acordo com os dermatologistas, a acne não é contagiosa. O que influi, aliás, no aparecimento da doença é a genética. Se seus pais tiveram ou se existem casos de acne na sua família, é bem provável que você também tenha.

Mas a genética, por si só, não significa nada. Você já deve ter notado que a acne piora ou melhora em determinados momentos da vida, não é mesmo? Isso acontece porque o que ativa o aparecimento da doença são fatores hormonais, ambientais e emocionais. Sabe aquela foto da adolescência que você esconde a sete chaves porque revela seu passado negro de Chokito? Pois é, a acne vulgar, ou do jovem, é a mais comum, afetando 80% dos adolescentes brasileiros, segundo informa o site dos Companheiros Unidos contra a Acne (CUCAS). É a época em que nossos hormônios sexuais estão à flor da pele e estimulam a oleosidade da epiderme.

Segundo a dermatologista Denise Steiner, a acne também pode ser agravada por disfunções hormonais que provocam o aumento do hormônio masculino na nossa corrente sangüínea. É o caso da síndrome do ovário policístico, por exemplo. Além disso, fatores como o stress excessivo e calor podem contribuir para o seu aparecimento. “A acne ocorre em qualquer época do ano, mas piora no verão, porque o aumento de temperatura promove maior produção de sebo”, explica Dra. Denise. E a Dra. Osvania completa: “A poluição também pode contribuir para o aparecimento da acne, porque a sujeira leva ao entupimento dos poros”.

E não é só o rosto que pode ficar comprometido. A doença pode ocorrer, também, no colo, nas costas, nos braços e, às vezes, na virilha e nas nádegas. Em todas essas regiões, há maior número de glândulas sebáceas. Já percebeu que a acne nunca aparece em locais como os pés e as mãos? É porque lá não existem as tais glândulas excretoras de sebo.

Nas moças, a acne aparece, com mais freqüência, dos 14 aos 17 anos. Nos rapazes, pode chegar um pouco mais tarde, entre os 16 e 19 anos. Se você já passou da idade e pensa que se safou, ledo engano; nenhum adulto está a salvo… Até cerca de 35 anos, você pode ter que enfrentar esse problema. Mas, calma… A acne tardia ocorre em apenas 1% da população masculina e 5% da feminina, segundo dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). É torcer – e se cuidar – para não fazer parte das estatísticas!

Escadinha inflamatória

A acne pode se manifestar de forma mais branda, com o aparecimento de espinhas menores e dispersas, até moderada e grave. Para facilitar nossa vida, os médicos dividiram a doença em cinco graus. Os nomes parecem difíceis, mas é muito fácil entender cada etapa! Veja se você está em algum desses estágios e descubra como se tratar e se prevenir! Fique atenta: se a acne não for tratada, pode evoluir do grau I até o IV. Apenas o grau V é um caso particular, que pode, inclusive, levar à morte se não for tratado.

Grau I – acne comedônica: é a mais simples e “bobinha”. Como diz o nome, há presença predominante de comedões, ou seja, cravos;

Grau II – acne pápulo-pustulosa: além dos comedões, aparecem, também, pápulas avermelhadas e pústulas (com pus);

Grau III – acne nódulo-cística: bem mais séria, surgem comedões, pápulas, pústulas e cistos.

Grau IV – acne conglobata: deve-se evitar a todo custo. O pus drenado pelos cistos vai formando túneis na pele, de um nódulo para outro, o que pode deformar o local afetado.

Grau V – acne fulminans: é a forma mais grave. Surge acompanhada de sintomas como febre, aumento das células brancas de defesa, dor nas articulações etc.

Se não tratada, a acne inflamatória pode resultar em cicatrizes e deformar o rosto, afetando a auto-estima e até mesmo dificultando a vida social. “Há pacientes que chegam muito envergonhados no meu consultório, tentando esconder o rosto com os cabelos. Tem meninas que não vão mais à praia, os meninos evitam as camisetas regata… Outros chegam até mesmo deprimidos e isolados do convívio social. Mas é importante que as pessoas saibam que isso não precisa ser assim. Existe tratamento seguro e eficaz contra a acne”, garante a Dra. Osvania.

O importante é tratar

Cutucar e espremer? Nunca! Esse é o crime número um contra a pele, porque pode infeccioná-la ainda mais. Para se livrar das espinhas, é essencial o acompanhamento com o médico dermatologista. Não importa se o seu grau é esse ou aquele. Todos os casos podem ser tratados com sucesso. Não espere elas irem embora sozinhas!

De acordo com o grau de comprometimento da pele, o dermatologista escolhe o tratamento mais adequado. Ele pode ser tópico – com o uso de cremes, géis, loções, sabonetes, ácidos e esfoliantes – ou oral (antibióticos ou isotretinoína, um derivado da vitamina A).

Os tratamentos funcionam isolados ou combinados, sendo que o importante é não se automedicar. “A pessoa pode estar jogando dinheiro no lixo com cremes e demais produtos que prometam a cura, mas que não resolvem nada. O uso de produtos cosméticos inadequados e fórmulas caseiras não resolvem, podendo até provocar mais problemas, como o maior entupimento dos poros”, explica a Dra. Osvania.

Apagando as marcas

A única pessoa capaz de fazer as indicações corretas de tratamento é o dermatologista, pois tudo depende do tipo de pele e de sensibilidade. O importante é tratar a doença logo no início, para evitar as temidas cicatrizes. Se você chegou lá, calma, ainda é possível reverter a situação. “Para o tratamento das marcas são feitos peelings e outras técnicas cirúrgicas. O laser também pode ser um recurso terapêutico”, explica a Dra. Denise Steiner. Mas aí, é claro, o custo é maior…