Parece um coador antigo de café, daqueles de pano, que a sua avó usava. Mas não é de pano, nem é feito para passar café. Pelo contrário, não passa nada. Do que estamos falando? Da camisinha feminina, esse ícone da emancipação da mulher moderna, que agora não precisa mais se ajoelhar aos pés do amante, implorando para ele se plastifica. Ela mesma pode se embrulhar.
Descartável, lubrificada e mais resistente que a masculina, a camisinha feminina é um saquinho de plástico fininho feito de poliuretano não-poroso e, se usada corretamente, além de evitar gravidez, previne doenças sexualmente transmissíveis (DST) e AIDS. Ela possui dois anéis maleáveis, um em cada extremidade. O da extremidade fechada deve ser colocado como um absorvente interno, de forma a cobrir o colo do útero. O outro anel fica para fora da vagina. Ajuste-o como der, não é a coisa mais linda do mundo de se ver, mas com certeza você vai ter coisas mais interessantes nas quais depositar o seu olhar. Não esqueça que a eficiência da camisinha depende também da hora da “retirada”, ou seja, depois da ejaculação: você deve torcer o anel externo, para que o sêmen não escorra, antes de puxá-la para fora.
“Já usei a bendita camisinha feminina”, conta a estudante paulista Thaís Gordon, “digo bendita porque, apesar do tamanho e aparência, é confortável e muito fácil de colocar. Tenho dó dos homens que precisam usar aquela parada apertada e ainda têm que dizer: “é a mesma coisa que sem!” Aaaah, tá! Mas é fato que, para usar aquele bagulho, é necessário pelo menos alguns anos de namoro. Quer dizer, não é bem assim, mas é preciso rolar uma super intimidade, o cara precisa ser louco por você – ou pelo menos tarado – para ver aquele meio metro de plástico saindo de você e ainda gozar, digo, gostar – porque pelo menos três dedos ficam pra fora (sim, sim, eu coloquei certinho!). Outro pequeno problema aconteceu nas mudanças de posição. Ela saía. Mas não há possibilidade de seguir a bula, pois se eu fosse colocar uma outra cada vez que isso aconteceu, teria gasto uma bela grana. Não é que ela saía no fim da relação, mas durante. Dizem que uma das vantagens é o fato de você poder colocá-la com algumas horas de antecedência, ao contrário da camisinha masculina, mas tem dó, quem vai querer aquilo entre as pernas por tanto tempo? Foi super fácil de achar, mas também, a R$ 8,00 um caixinha com duas, até eu vendo por aí! Conclusão: apesar de cara e de alguns probleminhas que eu creio serem resultantes da inexperiência – com a camisinha, é claro – eu recomendo.”
Numa pesquisa encomendada pelo Ministério da Saúde ao Núcleo de Estudos de População (Unicamp) e ao Cebrap, foram entrevistadas 2.453 mulheres usuárias do serviço público de saúde em seis cidades brasileiras. 70% das de baixa renda usaram e aprovaram o preservativo feminino, citando como aspectos positivos: proteger das DST (62%), ser confortável (38%), e dar autonomia à mulher (27%). E os maridões? Para eles, a maior vantagem da camisinha feminina é não apertar o pênis (29%); ser confortável (18,4%), não precisar se preocupar com o assunto (12%) e, em quarto lugar, a preocupação com as DST (11%).
Usar é bom, agora, colocar a camisinha feminina é uma dificuldade: 10% das mulheres reclamaram do manuseio e 9% da estética. Já na opinião deles, a aparência é a principal desvantagem: 14% acharam feia, e só 4% sentiram a sensibilidade diminuir. A jornalista Júlia Marinho, de 34 anos, mediu os prós e os contra: “Quando começou essa onda, fiquei curiosa. Um dia, encontrei numa farmácia em Copacabana, e resolvi comprar. Na época eu estava amamentando e tinha perdido um pouco da lubrificação, e também não podia tomar pílulas. Por esse lado foi bom, porque é a mesma coisa que camisinha masculina, mas não tem nada de lúdico, não é uma coisa bonita, é horrorosa. E sempre se erra na primeira vez, tem que pegar prática, achei muito complicado. Já o meu marido achou engraçadíssimo ver as minhas tentativas esdrúxulas. Eu experimentei todas as posições para colocar, foi surreal, hilário! Parecia cena de comédia pornô. (risos) Só na quarta vez é que fui pegar a manha. Outra coisa engraçada é na hora da compra: parece que o vendedor está imaginando “Hum, você é daquelas que gosta de chicotinho, né?” Júlia sente dificuldades para encontrar a camisinha feminina: “Não tem em todo lugar, é um saco ficar procurando. Achei ruim também o pacote, do tamanho de uma caixa de OB, que não cabe direito na bolsa. Também não é barata como a camisinha normal. Se fosse o mesmo preço, o design da caixinha menor e fosse mais simples de usar, eu usaria de novo.”
Ter o controle da situação é uma das principais vantagens da camisinha feminina. Júlia dá um toque final: “Você não tem mais aquele problema de na hora “H”, não rolar porque o cara não tinha preservativo, nem você. Dá pra tomar as providências necessárias, e até colocar antes, não incomoda nada. Geralmente é a mulher que se preocupa com isso, que traz o vinho, arruma a cama, ajeita tudo. Os homens não pensam nos detalhes, acham que tudo fica bonitinho por mágica, tipo varinha de condão, né?”
Engraçada, desengonçada, complicada, a verdade é que, na aparência, a camisinha feminina é tudo menos feminina. Parece até um mistério como, segundo a mesma pesquisa do Ministério da Saúde, a maioria das mulheres (63%) preferiu o uso do preservativo feminino ao masculino. Vai ver que é por que, na eficiência, ela é como nós mulheres: resolve o problema.