Prato feito

por | jun 30, 2016 | Alimentação

No século V a.C., o grego Hipócrates, considerado o pai da medicina, já pregava: “Que o teu alimento seja o teu remédio e que o teu remédio seja o teu alimento”. A máxima continua em voga até hoje, com o consumo dos chamados alimentos funcionais, que podem prevenir inúmeras doenças. O poder da alimentação é tão grande que, acredite se quiser, ele pode até ajudar na luta contra o câncer.

Você não é do tipo que devora frutas e hortaliças com freqüência? Então, a prevenção da doença pode ser um ótimo incentivo para que esses alimentos façam parte do seu cardápio. Mesmo para quem passou grande parte da vida sem comer verduras e legumes pode desfrutar dos seus benefícios. Aumentar a ingestão de frutas e hortaliças e diminuir o consumo de gordura saturada agora já afasta as chances de desenvolver câncer de cólon e reto. E é só incluir a soja na sua rotina para o cardápio anti-câncer ficar completo: a isoflavona (substância que revela comportamento semelhante ao do medicamento Tamoxifen) ajuda a mandar o risco de câncer de mama para bem longe!

Alimentos em conserva, como picles e defumados, concentram uma grande quantidade de nitratos e nitritos, e estão associados a casos de câncer de estômago e esôfago. Por isso, é melhor consumi-los moderadamente

E se manter a forma é bom para o ego, também é uma questão de saúde. A obesidade no período pós-menopausa poderia potencializar o risco de câncer de mama, principalmente quando a gordura está localizada na região abdominal. Existem evidências de que os cânceres de mama e endométrio estão associados com o excesso de peso corporal, refletindo também elevada ingestão energética. Segundo a World Health Organization, a obesidade, por si só, apresenta associação positiva com o risco de câncer de endométrio, tendo sido demonstrado em alguns estudos na Europa que perto de 40 % desse tipo de câncer está associado aos quilos extras.

E, quem diria, a forma de preparo das comidas pode prevenir o câncer! Alimentos em conserva, como picles e defumados, concentram uma grande quantidade de nitratos e nitritos, e estão associados a casos de câncer de estômago e esôfago. Por isso, é melhor consumi-los moderadamente. O Departamento de Saúde dos EUA também considera que a ingestão excessiva de carnes processadas aumenta o risco de câncer de cólon. E nem o churrasquinho escapa: segundo a World Cancer Research Fund, preparar carnes com temperaturas elevadas, produzindo um suco queimado ou expô-las diretamente ao fogo, como durante o preparo do churrasco, é desaconselhado. Tudo porque essa forma de preparo produz componentes carcinogênicos na superfície do alimento, o que aumenta o risco de câncer do estômago.

Pesquisadores alemães da Universidade de Würzburg, na Baviera, acompanharam pacientes com tumores em estágio avançado que eliminaram quase totalmente os carboidratos do cardápio e passaram a se alimentar, sobretudo, de gorduras e proteínas, preparadas na forma de um composto especial. A pesquisa parte do princípio de que, como a glicose (a principal fonte de energia das células tumorais) é obtida por intermédio da ingestão de carboidratos (especialmente o açúcar), cortá-los da alimentação levaria o câncer à regressão. Segundo a oncologista Solange Sanches, do Hospital do Câncer A. C. Camargo, de São Paulo, essa relação é mais evidente entre os tumores com alta taxa de captação de glicose, como o de pâncreas e o de cérebro – e a maioria dos pacientes do estudo alemão é portadora desses dois tipos de tumor. Cinco deles, depois de meses, tiveram a doença estabilizada. Em alguns casos, o tumor diminuiu.

Sem dúvida, já é fato bastante documentado que a adoção de hábitos saudáveis, incluindo a alimentação, constitui fator de proteção contra o desenvolvimento de vários cânceres. Mas isso não significa que você precise ficar só na salada. Um estudo da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) afirmou que a combinação arroz com feijão pode reduzir a chance de adquirir câncer oral, doença que responde por quase 3% de todos os tumores malignos no Brasil. Segundo a pesquisa, os pacientes que consumiram cerca de 14 porções de feijão por semana tiveram um risco 60% menor de ter a doença. No caso do arroz, o índice foi de 40%. Viu só? Investir em uma refeição balanceada – e saborosa! – pode ser a saída dar um chega pra lá nessa e em outras doenças.

É, Hipócrates nunca esteve tão certo!