Quem assiste ao programa “A Diarista”, da Rede Globo, não acredita que a atriz Cláudia Rodrigues, que aparece tão tagarela e espevitada na telinha, sofra de esclerose múltipla. A atriz confessou publicamente no fim de julho ter o problema há seis anos, despertando a curiosidade sobre o que é afinal essa tal de esclerose. A própria chegou a confessar que pensou se tratar de uma doença de velhinhos, e tal como ela, ainda há muitos que se confundem.
De acordo com a médica Soniza Alves Leon, chefe do grupo de pesquisa de esclerose múltipla do Hospital do Fundão, no Rio de Janeiro, as pessoas confundem a doença com a arteriosclerose, patologia com maior incidência em idosos e que leva à demência. “Ambas têm como conseqüência a esclerose, que são lesões, cicatrizes”, explica. “Mas são doenças diferentes: a esclerose múltipla é a interrupção do impulso nervoso nos neurônios, enquanto a arteriosclerose é um problema de interrupção do fluxo sangüíneo”, esclarece.
A esclerose múltipla ocorre principalmente em mulheres entre 20 e 40 anos
Soniza explica que a esclerose múltipla é uma doença auto-imune, isto é, são os próprios anticorpos da célula nervosa que, por não reconhecerem os dados genéticos do neurônio, atacam a capa que o reveste, a chamada mielina. Isso interrompe o sinal nervoso e, conseqüentemente, paralisa as ações de diversas partes do corpo, os quais o neurônio afetado comanda. Isso recebe o nome de surto e tanto pode ser visível pelos sintomas de paralisia e visão dupla, como silencioso. Nesses casos, o diagnóstico deve ser feito por meio de exames de medula e ressonância.
Alerta às mulheres
A esclerose múltipla ocorre principalmente em mulheres entre 20 e 40 anos, por causa do sistema neuro-endócrino, e em populações brancas, devido à presença maior de alelos – variação do gene – mais suscetíveis à doença na etnia. No entanto, isso não impede que homens afro-descendentes como o ex-policial Antônio César dos Santos, seja um portador. De muito bom humor, ele brinca dizendo que tem doença de mulherzinha européia: “Demorei muito para aceitar que tinha uma doença que dá mais em mulheres. Não queria tomar a medicação, achava que ia passar. Por isso, eu fiquei com seqüela na perna, não ando normalmente. Mas hoje eu já tomo os remédios”. E numa sonora gargalhada diz: “Hoje sou mocinha”.
Ele lembra que nos seus primeiros surtos, sentiu uma forte dor na cabeça. Antônio teve paralisia nas mãos, pernas e dificuldade de enxergar. “Andei de cadeiras de rodas até aceitar fazer o tratamento. Minha mulher chegou a me carregar. Me aposentei por invalidez há quatro anos e tive que tomar corticóides para voltar ao normal. Esse tratamento é chamado de pulsoterapia e durou um mês”, conta.
O ex-policial diz que passou por momentos muito difíceis antes de compreender que poderia levar uma vida normal. Ele superou a depressão e passou a ver a vida de uma forma mais positiva: “A doença também traz coisas boas. Hoje eu posso comprar um carro zero e não pagar IPVA, por exemplo, porque sou livre de impostos!”, brinca. Mas faz um alerta. “Tem que ter força de vontade e é por isso que venho aqui todos os dias: para mostrar a essas pessoas que não podem desanimar, senão a doença vem com tudo. Esse é o motivo pelo qual estou fundando um núcleo da Associação de Portadores de Esclerose Múltipla aqui no hospital”, afirma.