Perigo na veia

Se você tem tendência, prepare-se! Nem adianta esconder. Elas aparecerão cada vez maiores e mais numerosas, desesperadas para riscar suas pernas. O motivo? Seu sexo, querida. Mas nada de conformismo. Tudo bem, temos uma tendência cinco vezes maior do que os homens de sermos acometidas pelas varizes, mas os tratamentos estão aí para isso mesmo. Se você adiava este dia, é hora de encarar. Elas não estagnarão, nem desaparecerão. Muito pelo contrário. A cada ano, o problema só piora.

Parece dramático? Mas é pura verdade. Para lidar com o mal, entenda o que são as varizes. O angiologista e cirurgião vascular Edson Amaro Neves, da clínica Belas Pernas, no Rio de Janeiro, explica: “Varizes são veias que se dilataram e ficaram tortuosas. Elas podem se apresentar em diversas formas. Como minúsculas linhas avermelhadas serpentinosas (chamadas de telangiectasias), mais calibrosas e azuladas (as de médio calibre) ou ainda com nódulos que saltam o plano da pele (as de grosso calibre)”, diferencia o médico. Mas independentemente do grau da variz, ela pode e deve ser tratada, tanto por ser antiestética, quanto pela possibilidade de progredir, causando problemas de saúde.

Quer saber se você tem tendência às varizes? Basta dar uma olhadinha nas pernas de seus pais. Se eles tiverem varizes, cuidado! Elas não tardarão a aparecer. “Existe uma tendência geneticamente determinada em algumas pessoas e, se na família apresentam-se vários casos de varizes, o risco de apresentá-las é bem maior”, afirma Dr. Edson. Além da genética, outros fatores comprometem a saúde das veias. “O uso de anovulatórios – como os anticoncepcionais orais -, gravidez, oscilações de peso, trabalhos que exijam longos períodos sentados ou de pé, estresse, má alimentação e distúrbios emocionais tendem a favorecer o surgimento ou o agravamento de varizes”, lista o angiologista. Não é difícil se enquadrar em algum destes itens. Portanto, a prevenção é o melhor remédio.

Melhor prevenir do que remediar

Com simples medidas, pode-se evitar que as veias aumentem. O uso de meias de compressão é adotado por grande parte dos médicos, inclusive de forma profilática. Mas nada de sair correndo para o shopping atrás da primeira meia-calça que lhe oferecerem. “Não adianta comprar indiscriminadamente. Quando mal escolhida, além de não funcionar, pode piorar o problema. É o que acontece com meias muito apertadas, que atrapalham o retorno venoso. Elas devem ser de intensidade progressiva, apertando mais no calcanhar e menos no quadril. O ideal é comprar com indicação médica, inclusive para aprender a forma correta de calçá-las. Se a meia enrolar no joelho, a pressão nesta área não estará adequada, comprometendo o resultado”, alerta o angiologista Edson Amaro Neves.

Dr. Edson dá outras dicas: “Evite saltos com mais de quatro centímetros. Mas sapatos sem salto nenhum, como é o caso das sandálias rasteiras, também são contra-indicados. Eles não amortecem o impacto das pisadas, podendo formar microvarizes”, explica. Exercícios também são fundamentais, sendo que o hábito de caminhar diariamente é suficiente para manter as veias em bom estado. “A caminhada é um exercício simples e poderoso. Desenvolvendo-se o hábito, você perceberá uma mudança no seu organismo. Suas pernas ganharão mais tônus muscular, tornando-se mais belas”, afirma o angiologista.

Se exercitar-se é positivo, dar um descanso às pernas é fundamental. “Repouse, sempre que possível, com as pernas elevadas após um dia de atividades mais intensas. Pode-se inclusive deixar um calço nos pés da cama, de aproximadamente sete centímetros. Isso favorece o retorno venoso, já que os pés ficarão mais altos que o coração, ao deitar”, garante Dr. Edson, acrescentando que evitar engordar também ajuda as pernas a manter as veias sob controle: “A tendência das varizes é aumentar o calibre. Portanto, com o aumento acentuado do peso corporal, elas tornam-se mais grossas. Estando com o peso normal, o tratamento é facilitado”.

Para dar uma força extra no tratamento, alguns medicamentos podem ser incorporados à dieta. É o que sugere o dermatologista Fábio Rebucci. Especialista em medicina estética, Fábio costuma indicar uma fórmula à base de castanha da índia e hamammélis. “Esses componentes melhoram a circulação periférica, auxiliando no fortalecimento da parede dos vasos capilares. Mas depois que a variz está instalada, não tem jeito. Ela apenas ajuda a prevenir o surgimento de novos vasos”, explica o dermatologista.

A dermatologia também pode ajudar a acabar com as temidas manchinhas que se formam ao redor dos vasos, assim como com as causadas pelo sol após a esclerose. “É um peeling à base de ácido tioglicólico, ideal para retirar manchas roxas. Como o vaso se rompe durante o tratamento, derrama sangue na pele. É um processo longo, de anos, que pode ser resolvido em apenas duas ou três aplicações de ácido. E a pessoa ainda pode se expor ao sol após o procedimento, sem riscos de novas manchas”, garante Fábio Rebucci.

O tratamento

Você seguiu direitinho todas as recomendações acima, mas nada das varizes te deixarem em paz? Então não tem jeito, é preciso um plano de guerra! Apenas um angiologista está apto a indicar o tratamento mais adequado para acabar com as varizes, que, em casos extremos, pode requerer cirurgia para retirada da safena.

As técnicas são muitas: laser, escleroterapia, microespuma e radiofreqüência. Mas a escleroterapia – procedimento que injeta uma combinação de componentes esclerosantes nas varizes – continua sendo um dos mais acessíveis, eficazes e pocurados. “Já testei as outras técnicas, mas ainda prefiro a escleroterapia. Neste caso, a combinação dos componentes injetados vai variar de acordo com a necessidade, com o tipo de vaso e com a resposta ao tratamento”, explica Dr. Edson.

Mas nada de muita animação. A esclerose ajuda, porém, não é definitiva. A médica Daniela Pontes já perdeu a conta de quantas vezes recorreu ao tratamento. “Durante mais de vinte anos, esclerosei direto. Eram várias consultas por ano, pois uma nunca era suficiente. Na hora ficava ótimo, mas sempre voltavam”, lamenta a médica, que há um ano recorreu à cirurgia. “Por recomendação médica, tirar as duas safenas. Fiquei uma semana de cama, foi terrível. Mas hoje estou bem melhor”, conta Daniela.

A história da médica é comum entre mulheres. Sabendo da reincidência do problema, Dr. Edson recomenda que o tratamento seja sempre associado à drenagem linfática. “A drenagem linfática, que estimula o fluir, favorece o tratamento. Além disso, aconselho que seja feita uma avaliação com nutricionistas, pois os hábitos alimentares devem ser orientados. Manter o equilíbrio emocional também é fundamental. O estresse leva à manifestação das varizes”, finaliza o angiologista.