O peso da aparência > Gordinhos ganham menos

Infelizmente, para muitas pessoas, o preconceito vem de fora. Não bastassem os apelidos jocosos, a exclusão de atividades em grupo e a própria atitude das pessoas frente à gordura dos outros, agora até o mercado de trabalho está mais rigoroso. Uma pesquisa realizada pelo Grupo Catho no ano passado, junto a 31 mil executivos, revelou que 65% dos presidentes e diretores têm alguma restrição na hora de contratar pessoas obesas. Também mostrou que pessoas magras têm salário superior: cada ponto a mais no IMC (Índice de Massa Corporal) significa, para um gerente gordinho, que ele ganha R$92 a menos.

Isso ocorre, segundo a consultora Amanda Sousa, do Grupo Catho, porque vivemos em uma sociedade que mantém um culto exacerbado à beleza. Muitas vezes ter uma boa aparência vale mais do que o conteúdo. A sociedade discrimina as pessoas muito acima do peso, como se elas fossem culpadas por estar ´fora dos padrões´, esquecendo que a obesidade é uma doença. Muitas pessoas enxergam problemas com o peso como sendo um desvio social, gerado pela falta de autocontrole, mas essa é uma visão equivocada”, comenta a consultora.

Os casos de depressão não são poucos. Uma pessoa dificilmente se sente feliz quando está gorda. Sofre por não ser aceita, por não conseguir um amor verdadeiro ou não confiar no parceiro

Amanda Sousa lembra que, segundo dados do IBGE, 10,5 milhões de brasileiros sofrem com a obesidade e 38,8 milhões estão acima do peso. “Esses dados nos dão uma visão da quantidade de pessoas que podem estar sofrendo com algum preconceito. E essa postura tem se estendido para algumas empresas, que ainda insistem em não contratar os gordinhos”, destaca.

Longe dos prazeres da vida

Na opinião da psicanalista Beth Valentim, as dificuldades das pessoas acima do peso começam na própria visão que os outros têm de um corpo roliço. “Antigamente ter quadris fartos era ser uma mulher gostosa. Hoje, ser gostosa é um palavrão nos ouvidos de uma mulher”, afirma. Tanto que até a moda exclui quem não acompanha a tendência dos padrões esqueléticos. “O manequim só vai até o 42, que tem o tamanho 40. O 40 tem o tamanho 38 e assim por diante, sempre diminuindo. Como uma mulher com quilos a mais poderia estar mais apresentável, já que a maioria das roupas é para mulheres magras?”, questiona.

Beth Valentim vai mais longe: “Os casos de depressão não são poucos. Uma pessoa dificilmente se sente feliz quando está gorda. Sofre por não ser aceita, por não conseguir um amor verdadeiro ou não confiar no parceiro. Ao mesmo tempo, essa insatisfação leva a uma forte ansiedade, que gera mais vontade de comer, principalmente guloseimas, porque estão ligadas ao centro do prazer no cérebro. E é disso que precisam para ´sobreviver´. Normalmente isso é resultado de um buraco afetivo muito grande”, analisa.

A grande arma: auto-estima

Aos 30 anos, a jornalista Sabrina Paiva se considera uma gordinha feliz. Mesmo brigando com a balança desde a adolescência, ela diz que já encontrou o caminho ideal. “Tive muitos problemas de saúde por conta da obesidade e ainda por cima fiz muitas dietas malucas, que me deixavam péssima. Depois de um tempo, resolvi desencanar e fazer a coisa direito: fui buscar ajuda médica e comecei um programa de reeducação alimentar e exercícios físicos. Ainda estou acima do peso, mas bem melhor física e psicologicamente do que era antes”, conta. Para ela, as pessoas que estão muito acima do peso devem buscar tratamentos, desde que de forma saudável e sem exagero. “Demoram a aparecer os resultados, mas dá certo”, recomenda.

No entanto, a decisão de partir para a ´cura´ deve partir delas próprias. “Enquanto a pessoa não se conscientizar do quanto aquele estado a faz sofrer, vai continuar nesse processo que a torna infeliz e solitária”, finaliza Beth Valentim .