Gastronomia peso-pesado

“Oba! Sábado é dia de feijoada acompanhada daquela caipirinha. No meio da semana, tomara que o menu do restaurante perto do trabalho tenha aquela rabada esperta, com agrião é claro, que a galera adora. Sem falar da costelinha de porco dos deuses, habilidade especial da mamãe que ela deve por em prática ainda esses dias. Huuummm… que delícia! Mas já está me dando uma queimação no estômago só de pensar nessa comilança”. Não. O Bolsa de Mulher não está fazendo propaganda de antiácidos ou afins, para quem encheu o bucho com essa culinária peso-pesado e quer se aliviar. Isso é apenas uma matéria alertando que o prazer de saborear tais pratos talvez seja menor do que os malefícios que eles causam ao seu organismo.

Muitas dessas comidas aportaram nas mesas brasileiras pelas mãos e panelas de nossos colonizadores portugueses. Mas, convenhamos, lá o clima era propício para esse tipo de degustação. Só que apesar de estarmos a um oceano de distância e nos trópicos, onde o correto seria nos alimentar com frutas, legumes e verduras da estação, herdamos, além das receitas, a paixão por essa gastronomia nada frugal. “Eu adoro todas as comidas ditas pesadas. Mocotó, rabada, feijoada é comigo mesmo. Não como sempre porque sei que não devo, mas amo de paixão”, confessa a empresária Marta Barros.

Caetano Veloso já cantou que cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Esse verso se aplica muito bem àquele torresminho encarado no almoço que, depois, faz você penar de peso no estômago e, claro, na consciência – se você ainda tem um pouco de juízo. Porque, segundo o nutricionista Leonardo Haus, esses tipos de comida, chamadas de pesada – como a tradicional feijoada, a costelinha de porco, a rabada, o mocotó e por aí vai – se consumidas, devem se restringir a uma vez ao ano e olhe lá. “O ideal é não comer nunca, porque essas comidas são riquíssimas em gordura saturada”, alerta o nutricionista. Aline Monteiro, nutricionista da unidade coronariana do hospital Barra D’or, no Rio de Janeiro, ressalta também o perigo desse estilo de gastronomia. “As gorduras saturadas se depositam nas artérias causando o infarte. Esse tipo de comida faz um mal tremendo ao coração, devemos evitá-las ao máximo”, afirma Aline.

Outro grande, mas um pouco menos sério, problema é a digestão, quase sempre difícil (vide propagandas de digestivos), desse pratos – já que a gordura é digerida lentamente pelo organismo. Fora isso, um maior fluxo sangüíneo é desviado para tratar de resolver o que fazer com a costela de porco que bateu na sua barriga. “A digestão demanda, normalmente, cerca de 30% do fluxo sangüíneo de todo o corpo. Então, quando comemos essas comidas, é exigido um fluxo maior ainda. Por isso é que ficamos com sono depois de comer, principalmente esses pratos”, diz Aline Monteiro. E em relação ao feijão e à carne de porco, ainda existe outro agravante: “Eles possuem o triptofano, um aminoácido sedativo, que deixa a pessoa letárgica após a refeição”, comenta Leonardo Haus. Portanto, traçar uma feijoada em horário de almoço no trabalho, nem pensar, a não ser que você queira ser mandada embora para pegar o fundo de garantia.

E a eliminação total só acontece mesmo em, no mínimo, 48 horas depois de ingerida a tal refeição. No entanto, algumas medidas podem ajudar a quem gosta de comer um boi, mas não quer ficar feito uma jibóia. “A próxima refeição deve ser o mais leve possível, de preferência, com verduras e legumes que ajudam a melhorar a digestão”, indica Leonardo Haus. “É difícil ter fome depois, né? Mas, se for o caso, a pessoa deve compensar com uma redução calórica”, comenta Aline Monteiro. Outra questão, em função de tudo isso, é o horário que se escolhe para traçar o robusto menu: sempre durante o dia, comer e dormir não rola. “É bom também a pessoa dar uma caminhada depois para tentar digerir um pouco a comida”, aconselha Leonardo. As famosas feijoadas de carnaval também são proibitivas, ou seja, vá pelo agito, mas se abasteça antes com uma alimentação mais light. “No verão nem pensar, já que ficamos ainda mais moles devido ao calor”, diz Aline.

No entanto, passar a vida abstêmia de tais iguarias é uma tarefa árdua e difícil de cumprir. E para quem enche a pança contando com a ajuda dos digestivos, os nutricionistas aconselham a esqueçer esse método. Pois se você precisou dele, é sinal de que abusou de seu organismo.