Doentes por remédio > Gotinhas viciantes

A mania de usar remédio pode surgir por diversas razões. O jornalista Leandro Ponso tem utiliza regularmente descongestionante nasal há oito anos e confessa que não busca um tratamento efetivo por simples acomodação. “Sou bem preguiçoso. Prefiro enfrentar essas adversidades. Sempre falam para eu tentar parar de usar, mas nunca fiz nada efetivo”, reconhece.

Ele sofre de rinite alérgica e sempre que dormia com ar-condicionado ligado, acordava com o nariz entupido. A solução foi recorrer ao remédio. Depois de um tempo, o hábito se tornou vício. “Qualquer lugar que eu vá hoje, mas qualquer lugar mesmo, eu levo o remédio. Entro em pânico se estiver sem. Acho que é tão psicológico que o nariz começa a entupir, eu fico irritado, querendo ir embora ou procurar alguma gota para mim”, conta.

Leandro não se incomoda com o rótulo de “viciado” no remédio, mas sabe que o hábito não é positivo. Ele confessa que ter de usar sempre o medicamento lhe traz alguns transtornos: “Tem horas em que você pinga o tempo inteiro e não adianta nada. O fato de ficar carregando para cima e pra baixo também é meio chato”, enumera.

O problema está quando a pessoa não consegue se desvencilhar de determinados costumes e passa a depender disso para viver

A psicóloga Vera Soumar afirma que, antes de mais nada, é importante diferenciar mania e vício. Segundo ela, comer chocolate, por exemplo, é uma mania, ou seja, um hábito que você pode controlar. O problema está quando a pessoa não consegue se desvencilhar de determinados costumes e passa a depender disso para viver. Nesse estágio, o vício está instaurado. O estado emocional pode fazer com que se adquira uma mania e posteriormente um vício, sem ao menos se dar conta disso: “Numa fase em que se está mais sensível, fragilizada, fica mais fácil adquirir uma mania. Você sente o alívio e associa esse bem-estar à medicação. Depois ao menor sinal de problema, corre para o remédio”, explica ela.

A pedagoga Raquel de Freitas usou descongestionante nasal todos os dias durante seis anos e, hoje, sabe que o vício tinha fundo puramente emocional. Só conseguiu deixar o hábito de lado quando se separou do marido: “Em uma das primeiras noites, quando já estava separada, acabou o remédio de madrugada. Tive de dormir sem e, para a minha surpresa, passei a noite toda bem. E nunca mais usei o remédio. Meu problema era o marido”, brinca.

Raquel usava um vidro de descongestionante nasal por dia e atrelava o fato ao clima da cidade em que morava, que a deixava com uma espécie de bronquite asmática. Durante o tempo em que manteve seu vício, chegou a procurar tratamentos de homeopatia, acupuntura, vacinas para alergia e se submeteu a diversos exames. “Até que fui a um médico medalhão, desses muito conceituados. Ele disse que o meu problema era psicológico e não quis me medicar. Sai de lá querendo bater no velhinho, porque ainda tive de pagar a consulta. Depois vi que ele tinha razão”, conclui ela.