Cuidado com a preguiça

A vida moderna é mesmo cheia de facilidades: automóveis confortáveis, escadas rolantes, aparelhos com controle remoto – e, especialmente, a internet e o e-mail, que fazem com que você nem precise mais sair de casa para fazer uma pesquisa na biblioteca ou colocar uma simples carta no correio. Nos dias de hoje, vale a lei do menor esforço: se dá para facilitar, por que se exercitar? Não é à toa que o mundo está cheio de pessoas sedentárias, que preferem se beneficiar dessa lei e acabam esquecendo, ou ignorando, os malefícios que a falta de atividades físicas causa à saúde. E não é pouca coisa, ainda mais se somada ao alto consumo de alimentos industrializados e hipercalóricos, um mal da nossa geração. O sedentarismo já é considerado fator de risco pela Organização Mundial de Saúde, porque é fonte de uma vasta gama de doenças, como hipertensão, diabetes, câncer, osteoporose e depressão. E mais: por ano, em todo o planeta, morrem cerca de 2 milhões de pessoas, todas de doenças associadas ao problema.

Aos 21 anos, Maria Augusta Sorio, estudante de Relações Públicas, é um exemplo de sedentária assumida. Dona de um corpo esbelto e cheia de energia, ela assume não ser fã de atividades físicas. “Não malho por pura preguiça. Até já tentei fazer algumas aulas de dança, mas não é uma coisa que eu goste de fazer com freqüência”, assume. Ela sabe que o fato de ter na família pessoas igualmente sedentárias e com vários problemas de saúde já é um alerta do que pode vir pela frente, só que prefere continuar como está. “Minha saúde também não está legal, pois o colesterol está um pouco alto, mas não consigo resistir a uma porção de guloseimas. A única doença da qual eu tenho muito medo é o câncer, tenho comido brócolis para prevenir”, afirma.

A gordura abdominal é ativa em termos de hormônios, causando predisposição à hipertensão, ao colesterol elevado e ao diabetes

Outra inimiga dos exercícios é a jornalista Manoela Carvalho. A rotina da profissão, segundo ela, é estressante, o que torna quase impossível não sentir ansiedade. “Eu como muita porcaria, fumo e bebo socialmente. Nas horas vagas durante a semana, não tenho paciência para malhar, pois trabalho tanto que, quando chego em casa, quero mais é mergulhar na minha cama”, conta. Os quilinhos a mais, que ganhou ao longo do tempo, incomodam um pouco, no entanto, ela não vê perspectivas de começar uma atividade física ou mudar a alimentação. “Não tenho pique para encaixar uma academia na minha agenda e não gosto muito dessa alimentação estilo ´geração saúde´. Sei que corro o risco de desenvolver uma série de doenças, mas prefiro não pensar nisso agora”, afirma.

Obesidade, um fator de risco

Por mais que seja tentador, ficar sem malhar implica em uma série de riscos. Na verdade, o que ocorre é um processo degenerativo da saúde, que vai ficando progressivamente abalada. Uma das doenças mais associadas ao sedentarismo é a obesidade. Não fazendo muito esforço e comendo muito, a pessoa acaba acumulando no corpo muitas calorias e não gastando quase nada. Progressivamente, o aumento de peso vai gerando uma porção de estragos. Muitos deles podem ser notados externamente, como limitações nos movimentos, sobrecarga na coluna e nos membros inferiores, varizes, aparecimento de fungos nas dobras cutâneas. Internamente, começam a aparecer doenças cardio e cerebrovasculares, câncer, diabetes tipo 2, aumento do colesterol, hipertensão arterial e osteoartrite, entre outras.

Ao longo do tempo, mesmo que a pessoa não esteja obesa, a falta ou diminuição da atividade física vai trazendo uma série de alterações orgânicas, como a perda da flexibilidade articular, a atrofia das fibras musculares e até mesmo problemas no funcionamento de órgãos vitais, como o coração. Aliás, vale saber que é muito mais provável que uma pessoa magra e sedentária morra antes da hora do que uma pessoa obesa e ativa. E este é mais um motivo para se cuidar. Ah! Sabe aqueles “pneuzinhos” que insistem em aparecer na sua barriga? Eles nada mais são do que gordura abdominal acumulada. Segundo o cardiologista Alexandre Santos, do Hospital Santa Paula, essa gordura duplica as chances de se ter um infarto, tanto em homens quanto em mulheres – especialmente entre os sedentários. “A gordura abdominal é ativa em termos de hormônios, causando predisposição à hipertensão, ao colesterol elevado e ao diabetes”, explica.