Se você é daquelas pessoas que só toma o chá que a sua avó prepara quando fica doente, não sabe o que está perdendo. Cada vez mais popular, a bebida tem aparecido em diversas versões e sabores. Quente, gelado, com leite, frutas e flores. Naturais ou industrializados. Para beber ou para passar no corpo, em forma de creme. Não importa como, o chá é a bola da vez. Além de charmoso, o líquido tem ações terapêuticas – e mais: poucas calorias.
Reza a lenda que o primeiro chá surgiu por acaso. Por volta de 2700 a.C., o imperador chinês Shen Nong deixou cair algumas folhas em uma água que estava sendo fervida. Ele sentiu o aroma e resolveu, então, experimentar o líquido. Gostou muito da mistura. Assim, o primeiro chá tinha sido feito.
Chá ou infusão?
Engana-se, no entanto, quem pensa que basta apenas misturar uma planta com água quente para ter um chá. Carla Sauressig – dona da A Loja do Chá, em São Paulo, com filiais em Brasília, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre – estuda há dez anos a história e as combinações de ervas e plantas. Ela explica que só é chá a bebida feita com a planta camellia sinensis. Todo o resto é apenas infusão.
Mas como esta simples plantinha pode produzir centenas, milhares de chás? Simples. Dependendo de onde foi plantada, ela tem sabor e textura diferentes. “A camellia se assemelha ao vinho, muda o gosto de acordo com o lugar da plantação, do tipo de solo, dos fatores climáticos. Além disso, pode-se misturar com flores e frutas, dando novas opções de sabores ao chá”, explica a especialista, lembrando que é praticamente impossível definir os tipos de chás que existem no mundo.
Os tipos
Segundo Carla Sauressig, existem três tipos de chás básicos feitos pela camellia sinensis: o verde, quando a folha não foi fermentada; o oolongo, quando ele sofre a fermentação pela metade; e o preto, quando esse processo se completa. Muito delicada, a planta fermenta naturalmente e, ao ser retirada do solo, murcha rapidamente. Por isso, é comum as mulheres serem responsáveis pela colheita.
O preparo
Carla orienta que a erva nunca pode ser fervida com a água, que deve estar entre 80º e 90º C. O tempo de infusão também vai variar com o tipo de chá. Para o verde, deixe-o entre um e três minutos. O preto, entre três e cinco, e aqueles com outras ervas e frutas deixe entre cinco e dez minutos. “A temperatura da água e o tempo de infusão também alteram o sabor da bebida”, explica a especialista.
Chá quente!
Ao comprar o chá, cerque-se de alguns cuidados. Verifique a procedência e certifique-se de que esteja bem condicionado. “O chá verde deve ser verde, senão ele está velho. O cheiro deve ser bom e não de mofo, que significa que formou fungos e não serve mais. Dê preferência aos orgânicos, que foram cultivados só na água”, enumera Carla Suaressig.
Chá das cinco
A lenda diz que o chá surgiu na China, mas ultrapassou fronteiras. Chegou ao Ocidente por causa de Portugal e Holanda, que tinham colônias naquele país. Hoje, é plantado em vários lugares do mundo, ganhou rituais e ares sofisticados. Em 1830, o famoso chá das cinco foi lançado pela Duquesa de Bedford. Ela sentia fome entre o almoço e o jantar, por isso criou esse lanche que, além do chá, eram servidos bolos, biscoitos, torradas com manteiga, entre outras delícias. Tudo em louças e pratarias impecáveis. Era a moda que a realeza e a aristocracia inglesa não dispensavam. E logo, o costume passou para outros países do continente, surgindo grandes salões de chás.
O chá da discórdia
Já para as bandas americanas, a bebida teve uma importante participação no processo de independência dos Estados Unidos. O hábito de beber chá veio com a imigração de pessoas da Inglaterra. Em 1773, ocorreu a Boston Tea Party (A Festa do Chá de Boston, para a historiografia americana, e A Revolta do Chá, de acordo com a inglesa). Neste evento, em oposição ao aumento da taxa de importação do chá, várias toneladas das ervas foram jogadas no mar. O episódio foi um dos momentos mais importantes na luta da independência americana.
O chá no Oriente
A Cerimônia do Chá é um ritual japonês cercado de cuidados. Convidados e anfitriões se preparam com antecedência para o evento. No ritual, é importante que os problemas do dia-a-dia sejam deixados de lado. A arte desta cerimônia consiste em quatro virtudes que o anfitrião estimulará em seus convidados: harmonia, respeito, pureza e serenidade.
Num primeiro momento, é servida uma refeição, cuidadosamente escolhida para tornar o ambiente mais agradável e convidativo. Depois, é servido o chá verde em pó. Este chá é considerado estimulante e muito usado na meditação. Segundo os costumes, com a bebida e com a atmosfera criada, torna-se mais propício o alcance destas virtudes.
Veja amanhã: as propriedades terapêuticas e nutricionais dos chás.