Ondas de calor, aumento de peso, diminuição da libido, depressão. É chegada a menopausa. As mulheres costumam ter uma relação de amor e ódio com a menstruação e, quando esta acaba de vez, por volta dos 40 e 50 anos, outros problemas surgem. O que muita gente não sabe é que isso pode acontecer cedo demais. Assim como outros distúrbios ginecológicos, a menopausa precoce – ou amenorréia hipergonadotrófica, ou ainda falência ovariana prematura – é uma realidade mais comum que se imagina.
A menopausa é um fenômeno natural na vida da mulher, assim como a menstruação, e nada mais é que a cessação permanente dos ciclos menstruais. Os ovários param de produzir óvulos e a produção do hormônio estrógeno diminui. No entanto, para cerca de 1% da população feminina mundial, o fim do período reprodutivo ocorre antes dos 40 anos de idade e, com isso, pode antecipar doenças cardiovasculares, a osteoporose e o aumento do colesterol, além dos sintomas característicos de uma menopausa “normal”. Outra conseqüência é a infertilidade, o que abala as esperanças de jovens que sonham em ser mães.
Todos os futuros folículos, que poderão originar os óvulos, já estão presentes na mulher desde o nascimento. Quando eles acabam, se instala o ciclo anovulatório que evoluirá para a menopausa
Elizangela Borges, de 27 anos, entrou na menopausa há dois anos e teve que deixar de lado a vontade de engravidar pela segunda vez: “Quando decidi que queria engravidar, descobri que já estava na menopausa”, conta Elizangela, mãe de uma menina de 6 anos. “Tinha o desejo de ter mais um filho, mas infelizmente não foi possível”, lamenta.
E por que isso acontece? As causas são, na maioria, genéticas, embora também possam ser resultado de intervenções cirúrgicas, como a retirada do útero ou dos dois ovários. Marco Aurélio Goulart, ginecologista, explica que toda mulher nasce com um determinado número de folículos nos ovários, que serão amadurecidos aos poucos a cada mês: “Todos os futuros folículos, que poderão originar os óvulos, já estão presentes na mulher desde o nascimento. Quando eles acabam, se instala o ciclo anovulatório que evoluirá para a menopausa”, conclui. A quantidade inicial de folículos nos ovários varia normalmente entre 300 e 500 mil, mas existem mulheres que nascem com um número bem reduzido, e, por este motivo, eles acabam mais cedo que o habitual, levando à menopausa precoce.
Por não haver mais a ovulação devido à falta de folículos ovarianos, a produção dos hormônios estrógeno e progesterona, que determinam as mudanças cíclicas no organismo feminino, fica comprometida. A falta de estrógeno é o principal fator dos sintomas da menopausa. A sensação de calor (conhecida como fogacho), as alterações de humor, a queda do apetite sexual e o acúmulo de gordura, principalmente na barriga, são reclamações constantes da maioria das mulheres. Elizangela sentiu na pele as transformações provenientes da menopausa: “Engordei mais de 20 quilos. Fora as celulites, o inchaço abdominal, o calor…”, conta.
Encarando de frente
É claro que todas essas mudanças no corpo mexem com a vaidade e a auto-estima feminina. Não é à toa que a propensão à irritabilidade e a crises depressivas seja muito maior neste período. A pele também pode sofrer um envelhecimento mais rápido. Para completar, o ressecamento e a atrofia da mucosa vaginal prejudicam mais ainda a libido. Algumas mulheres se queixam de que o desejo sexual diminui radicalmente. Mas certas atitudes podem ajudá-las a recuperar o bem-estar. Para amenizar os sintomas, existe o tratamento de reposição hormonal, muito comum entre as mulheres que estão no climatério, fase que se compreende o fim do período reprodutivo e os anos seguintes. A reposição busca proteger os ossos, prevenindo a osteoporose, proteger as artérias contra problemas cardíacos, suavizar os fogachos e melhorar o bem estar físico e emocional da mulher. É essencial, porém, que se faça uma avaliação médica detalhada antes de iniciar qualquer tratamento com hormônios.
Além da reposição hormonal, há outras formas de superar os efeitos incômodos do climatério. A professora universitária Elaine Carvalho teve sua menopausa aos 17 anos de idade e aprendeu a buscar o aumento da qualidade de vida, com dietas balanceadas e exercícios: “Tomo cálcio, suplemento vitamínico, faço atividade física”, afirma. Mas nem sempre foi assim. Por ter enfrentado a menopausa muito jovem, Elaine teve dificuldades em lidar com o problema. “Eu me sentia como uma vítima do destino e me perguntava por que aquilo havia acontecido comigo. Tinha muita vergonha de falar sobre isso e não queria que ninguém soubesse” confessa ela, que hoje, aos 37 anos, é uma das participantes mais ativas de uma comunidade no Orkut, site de relacionamento na internet, que aborda a menopausa prematura. “Atualmente, encaro com a tranqüilidade que a situação exige e não me sinto mais constrangida: ao contrário, tento ajudar outras mulheres que passam por isto. Acho que a menopausa precoce me ajudou a amadurecer emocionalmente”.
Elaine descobriu que tem síndrome de Savage, ou síndrome dos ovários resistentes às gonadotrofinas, um distúrbio ainda menos freqüente que a menopausa precoce, mas que pode levar ao mesmo problema de antecipação do climatério. De acordo com o ginecologista Hugo Miyahira, professor-doutor da UFRJ e vice-presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro, esta síndrome tem um diferencial em relação aos outros casos da doença: as conseqüências podem ser reversíveis. “Nesse caso, há a possibilidade de voltar a ovular e a menstruar, pois ainda há folículos nos ovários. Eles apenas não respondem ao estímulo das gonadotrofinas (hormônios reprodutivos)”, explica. “A infertilidade pode ser, portanto, permanente ou temporária”, completa.
O diagnóstico feito por um ginecologista, com base em exames, é a melhor maneira de descobrir o problema e tratá-lo da forma adequada. Mesmo que os sintomas desagradáveis demorem a surgir ou não apareçam, é importante averiguar qualquer alteração no ciclo menstrual. O médico Marco Aurélio Goulart dá o conselho: “A mulher que notar diminuição gradativa do intervalo entre as menstruações, seguido de atrasos, deve procurar um ginecologista para que sejam solicitados exames de dosagens hormonais, como os de gonadotrofinas, estrogênios e progesterona”, finaliza.