Enquanto a vida se torna cada vez mais prática e os alimentos industrializados e semi-prontos se apresentam mais atrativos em meio a correria do dia-a-dia, nadando contra a corrente, surge uma alimentação natural baseada em sementes germinadas, algas, frutas e verduras frescas e orgânicas. Trata-se do crudivorismo. Um hábito que promete vida mais longa e saudável. Mas você sabe o que isso significa?
Os crudivoristas são os indivíduos que consomem os alimentos em seu estado natural, isto é, crus, ou no máximo, desidratados. Ao contrário das comidas cozidas e industrializadas que perderam muitos de seus nutrientes no processo de preparo, essas iguarias, conhecidas como alimentos vivos, preservam suas estruturas moleculares intactas e são ricas em vitaminas, sais minerais, enzimas e outras substâncias benéficas ao organismo. “Dependendo do calor progressivo que o alimento sofre, há uma destruição das enzimas e perda das vitaminas e sais minerais. As gorduras cis se transformam em trans, as proteínas são coaguladas e os açúcares podem ficar invertidos. Dependendo dos processos utilizados na industrialização, os alimentos podem agregar substâncias tóxicas nocivas ao organismo”, revela a nutricionista e educadora ambiental Ros’Ellis Moraes.
Os alimentos vivos não consomem quase nenhuma energia de nossos processos digestivos e criam pouquíssimas toxinas ou reações entre si. Eles fermentam muito pouco e são absorvidos com facilidade
Segundo o professor húngaro Edmond Bordeaux Szekely (1900-1979), que estudou e experimentou os alimentos vivos na cura de várias doenças, os alimentos disponíveis no meio ambiente podem ser divididos em:
– Biogênicos (geradores de vida), que incluem os alimentos vivos: grãos, sementes, leguminosas, cereais e hortaliças;
– Bioativos (mantenedores de vida), do qual fazem parte as ervas medicinais, nozes, frutas cruas e frescas;
– Bioestáticos (diminuidores de vida), que engloba os alimentos cozidos, refrigerados e congelados;
– Biocídicos (destruidores de vida), que são representados pelos alimentos produzidos com a utilização de hormônios, inseticidas, agrotóxicos, corantes, acidulantes e conservantes que retiram por completo os nutrientes dos alimentos.
Para os crudivoristas, os alimentos industrializados (biocídicos) são justamente a causa do envelhecimento celular e de muitas doenças. “A carne vermelha, os laticínios, o açúcar refinado, as gorduras oxidadas e o sal refinado, além de possuírem uma estrutura molecular incompatível com o organismo humano, podem contribuir para o aparecimento de muitas doenças degenerativas. A forma de produção destes alimentos, com agrotóxicos, conservantes e aditivos libera resíduos tóxicos que se acumulam no corpo”, esclarece Ros’Ellis.
Os benefícios
A alimentação viva traz muitos benefícios, tanto do ponto de vista nutricional, como do metabolismo humano. As sementes são os alimentos com a maior concentração de nutrientes que a natureza oferece. Quando hidratadas e germinadas (nome dado à fase inicial de crescimento de uma planta), as sementes multiplicam suas vitaminas, sais minerais e enzimas e favorecem o surgimento de muitas outras substâncias, como antioxidantes e hormônios naturais. “Certas sementes chegam a aumentar alguns de seus nutrientes em até vinte mil vezes depois de germinadas”, revela o idealizador do Projeto Alquimia Viva e consultor de Alimentação Viva, Bruno Fernandes.
Os frutos oleaginosos hidratados, por sua vez, são ricas fontes de proteínas e ácidos graxos essenciais, superando os alimentos de origem animal. São também uma boa fonte de cálcio. Já as verduras e frutas frescas e orgânicas, além de contribuírem com as vitaminas e sais minerais, complementam a dieta com proteínas, gorduras e carboidratos.
E os ganhos no sistema digestório são imensos. Enquanto os alimentos cozidos e industrializados exigem uma quantidade enorme de enzimas do organismo para sua digestão – já que eles perderam as suas durante o processo de cozimento – os alimentos vivos fornecem os nutrientes em sua forma bioativa, isto é, eles já vêm com enzimas, não sendo necessário que o organismo gaste as suas. “Os alimentos vivos não consomem quase nenhuma energia de nossos processos digestivos e criam pouquíssimas toxinas ou reações entre si. Eles fermentam muito pouco e são absorvidos com facilidade”, afirma o professor e economista Mário Sanchez. Os alimentos vivos ajudam, ainda, na reconstituição da flora intestinal, criando um ambiente favorável para o surgimento de bactérias essenciais ao organismo e na desintoxicação do corpo. Segundo Ros’Ellis, este tipo de alimentação, através de seus nutrientes ativos, fortalece a energia dos rins, aumentando a diurese que elimina as toxinas e limpa o sangue. Ela evita também a prisão de ventre e tem o poder de neutralizar os radicais livres.
E os benefícios vão além da saúde. Para Bruno Fernandes, as vantagens são também econômicas e ecológicas. “A indústria alimentícia é uma das que mais polui. Alimentando-nos de sementes, grãos, frutas e vegetais, diminuímos o gasto de água para o cultivo e evitamos o esgotamento do solo, a poluição das águas e o desmatamento. O custo é mais barato para produtor e consumidor”, afirma.