As crises se repetiram, sempre em momentos de aparente descontração, como em viagens entre amigos ou durante uma saída para boate. A arquiteta confessa que relutou em procurar ajuda e precisou de um empurrãozinho para encarar o problema. “Tinha viajado com amigas para um festival de shows e no meio de um deles comecei a chorar loucamente. Não queria ninguém perto de mim e briguei feio com a minha melhor amiga. Depois conversando, ela me convenceu de que estava passando por um problema e que deveria procurar um médico”, lembra.
A síndrome pré-menstrual é um conjunto de alterações emocionais, do comportamento ou do corpo, que ocorre nos dias anteriores à menstruação e que desaparecem nos primeiros dias do fluxo ou durante a menstruação, como explica o psiquiatra Elie Cheniaux Junior, professor da UERJ, que estudou o fenômeno para sua tese de doutorado “A inclusão da síndrome pré-menstrual entre os transtornos mentais”. É comum associar a síndrome apenas às alterações de ânimo, mas além de causar irritabilidade, ansiedade ou falta de paciência, é ela quem motiva dores de cabeça, cólicas, inchaço nos seios, distensão abdominal, dores nas costas e até o aumento de peso no período que precede a menstruação. “A variação de hormônios sexuais desencadeia as alterações, mas não é a causa do problema. Não se sabe o que de verdade motiva a síndrome”, esclarece.
No caso de alterações apenas de cunho emocional, o diagnóstico deve ser mais específico: trata-se da disforia pré-menstrual. Segundo o psquiatra, este é um tipo de síndrome relacionado a transtornos mentais, que não apresenta sintomas físicos, e afeta aproximadamente 5% das mulheres. Uma das hipóteses trabalhadas pelos pesquisadores é da relação entre as alterações emocionais e a circulação de serotonina, um neurotransmissor responsável pela circulação de informações entre neurônios. Problemas com esta substância poderiam causar inclusive depressão, conta Dr. Elie Cheniaux Junior. “Como em todos os transtornos mentais, conhece-se muito pouco. Com certeza, tem relação com as atividades cerebrais, mas também é influenciado pela carga genética e por eventos na vida da pessoa”, pondera.
Se está com dor, recomenda-se um analgésico. Se estiver com inchaços, prescrevem-se diuréticos. É um tratamento de alívio de sintomas
Segundo ele, os tratamentos para a síndrome pré-menstrual são sintomáticos, ou seja, agem para remediar problemas conforme seu aparecimento, por conta da variedade de disfunções e especificidades em cada mulher. “Se está com dor, recomenda-se um analgésico. Se estiver com inchaços, prescrevem-se diuréticos. É um tratamento de alívio de sintomas. A evolução é muito variável. Algumas vezes, mesmo sem o tratamento os problemas desaparecem. A medicação pode ser ministrada por um período e depois não ser mais necessária”, enumera. No caso da disforia pré-menstrual é indicado o uso de medicamentos antidepressivos. O psiquiatra explica que este tipo de remédio passa a ser necessário, devido à natureza diferenciada do problema. “Por definição, é algo patológico, são alterações que afetam muito o dia-a-dia da mulher”, conclui.
Cólicas
A estudante de engenharia Milena Guerra nunca teve problemas com a regularidade de seu ciclo menstrual, nem se sentiu mais irritada ou triste às vésperas da menstruação. O problema era exatamente quando ela chegava. Se algumas precauções não fossem tomadas, era pesadelo à vista: quatro dias de puro suplício com uma cólica tão intensa que persistia mesmo com medicamentos. “Sei quando vou ficar menstruada, então tenho que controlar e me medicar antes. Se começo a sentir a cólica, já não adianta mais tomar remédio. Já vomitei várias vezes de dor e desmaiei algumas outras”, conta.
Milena explica que demorou a encontrar uma fórmula eficaz para prevenir as cólicas e promoveu uma verdadeira caçada ao tesouro para resolver o problema: “Fui tomando todos os remédios, experimentando tudo, até achar um que funcionasse. Até hoje, encontrei apenas um que evitasse as dores”.
Banhos quentes, estimulantes elétricos, aspirina, morfina e até drogas como ópio e heroína já foram receitadas ao decorrer dos tempos para combater a incômoda cólica menstrual, que é provocada pela contração das paredes musculares do útero. “Todo órgão que possui uma parte central oca, como a vesícula, o intestino e o útero, quando se contrai, provoca cólica. O útero é um músculo, quando precisa expulsar algum material, como um coágulo, ele se contrai para que esta substância saia”, esclarece o ginecologista Eduardo Zlotnik.
Atualmente, além de analgésicos e antiinflamatórios, recomendados para remediar a dor, as mulheres podem contar com as pílulas anticoncepcionais. “A pílula é eficaz porque atenua a força muscular, diminui o fluxo menstrual e inibe a ação da prostaglandina, substância que age no mesmo local no qual é produzida e atua como mediadora da dor”, explica o Dr. Zlotnik. A prostaglandina estimula a contração de vasos sanguíneos e do útero num ciclo de ovulação normal. Sendo assim, ao interromper a ovulação por meio da pílula, a produção dessa substância também é prejudicada e a dor amenizada.
A ciência descobriu algumas novas formas de combater o incômodo, mas a velha bolsa de água quente da vovó pode sim ajudar. “Aquela história de que andar descalço faz mal é mito, mas o calor dilata os vasos e melhora a circulação. Com isso, diminui a dor”, conta o médico.