Antibióticos que cortam efeito da pílula: 4 deles elevam suas chances de engravidar

Apesar da ciência não ter comprovado que antibióticos alteram a ação do anticoncepcional, histórias de mulheres que engravidaram durante o tratamento de infecções são mais comuns do que se imagina. Entenda por que isso acontece.

Como o anticoncepcional funciona?

Disponível em diversos tipos e marcas diferentes, o anticoncepcional tem o objetivo de bloquear a ovulação – ou sejam a liberação de óvulos que, uma vez fora do ovário, ficam “disponíveis” para a fecundação e podem resultar em uma gravidez. No caso das pílulas, elas se dividem em dois grupos principais, e a diferença entre eles está na composição destes medicamentos.

De acordo com o ginecologista e obstetra Marcos Tcherniakovsky, as pílulas podem combinar estrogênios e progestagênios (podendo ou não haver pausas entre as cartelas) ou ser compostas apenas por progestagênios (que devem ser tomadas de forma contínua, sem fazer pausas entre as cartelas) – ambos tipos de hormônios que atuam no cérebro para conter a ovulação.

Conforme explica o médico, tomar remédios desse tipo é como construir um ciclo menstrual artificial. “Para uma pessoa que toma anticoncepcional, o efeito que o remédio causa é como se os ovários estivessem brecados, pois é o hormônio de fora que está sendo dado ao organismo”, afirma ele.

Enquanto a pílula é um anticoncepcional que deve ser tomado diariamente, outros tipos – como o adesivo e a injeção, por exemplo – têm uma periodicidade diferente para a aplicação, mas sua ação se baseia nos mesmos princípios do medicamento ingerido por via oral.

Quais antibióticos diminuem o efeito do anticoncepcional?

O médico especialista em reprodução humana Maurício Chehin, da clínica Huntington, explica que, de fato, existem antibióticos que reduzem o efeito do anticoncepcional. Esse é o caso da Rifampicina e da Rifabutina. “Fora essas drogas, algumas sociedades médicas consideram que a Tetraciclina e a Ampicilina também podem diminuir a contracepção”, conta.

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Em relação a outros antibióticos, o especialista explica que não existem comprovações científicas que eles diminuam o efeito do anticoncepcional, no entanto, existem relatos de mulheres que engravidaram tomando anticoncepcional.

“Quando existem duas drogas agindo em um mesmo organismo, elas podem se influenciar mutuamente, uma acelerando a ação da outra, e fazendo com que seus efeitos sejam menos duradouros”, explica o médico. “Outra interferência é a resposta de cada organismo a esses medicamentos”, diz ele.

Antibiótico corta o efeito do anticoncepcional injetável?

Pela dificuldade em lembrar de tomar o medicamento diariamente, muitas mulheres optam por usar o anticoncepcional injetável, aplicado, como o próprio nome diz, a partir de uma injeção. Essa aplicação pode ocorrer mensal ou trimestralmente e, por conta da diferença entre esse medicamento e a pílula, é comum a dúvida de se os antibióticos também podem diminuir sua eficácia.

Apesar da forma de “tomar” ser diferente, os anticoncepcionais injetáveis agem da mesma forma que a pílula na hora de bloquear a ovulação, então, assim como acontece com os remédios ingeridos por via oral, os tipos de antibiótico citados anteriormente também podem entrar em conflito com as substâncias contraceptivas, diminuindo sua eficácia.

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Por quanto tempo estou desprotegida?

O ideal é associar outro método preventivo à pílula anticoncepcional enquanto o antibiótico estiver agindo no organismo. Esse tempo é determinado pela meia vida do medicamento, informação presente na bula que indica qual é o tempo necessário para que a concentração do antibiótico caia pela metade.

No caso do antibiótico Amoxicilina, por exemplo, o tempo de meia-vida é de uma hora, enquanto o tempo de meia-vida da Tetraciclina é de 6 a 7 horas. O medicamento costuma chegar a níveis bem baixos quando se atinge o período de sete vezes o tempo de meia vida. No caso da Amoxicilina, esse tempo seria de 7 horas e no caso da Tetraciclina, seria de até 49 horas. Procure a informação na bula e multiplique por 7.

O que fazer para prevenir gravidez?

A recomendação do médico Maurício Chehin é para que a mulher continue tomando a pílula anticoncepcional enquanto faz o tratamento com antibiótico e associe um método anticoncepcional de barreira, como a camisinha masculina.

É importante lembrar que o anticoncepcional em pílulas, injetável, adesivo ou anel vaginal não protege contra Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), por isso, o ideal é sempre usar a camisinha, prevenção adequada para esses casos.

Vale também destacar que não existe método anticoncepcional 100% eficaz, mesmo que ele seja usado corretamente. Fatores como tomar medicação na hora errada, aplicação incorreta e armazenamento errado da droga diminuem ainda mais sua eficácia.

Outros remédios que diminuem a eficácia do anticoncepcional

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), alguns medicamentos que compõem a terapia antirretroviral podem interagir com a pílula anticoncepcional e diminuir sua eficácia. É o caso dos inibidores da transcriptase reversa não nucleotídeos e dos inibidores de protease ritonavir.

O mesmo acontece com os anticonvulsivantes fenitoína, carbamazepina, barbitúricos, primidona, topiramato, oxcarbazepina e lamotrigina.

Erros que podem fazer o anticoncepcional falhar

Os antibióticos e medicamentos antirretrovirais, há também outros hábitos e substâncias que podem comprometer a ação da pílula anticoncepcionais, deixando a mulher desprotegida. São eles:

Não tomar o anticoncepcional sempre no mesmo horário

Como a eficácia da pílula anticoncepcional está no fato de que ela entra no organismo diariamente, variar muito o horário em que o medicamento é ingerido pode fazer com que seu efeito na ovulação acabe comprometido. Como a quantidade de hormônio de cada pílula é pequena, ter intervalos muito grandes entre elas pode baixar o nível hormonal, diminuindo a eficácia do remédio.

Além desse possível efeito, tomar a pílula em um horário diferente todos os dias também facilita o esquecimento – algo que está diretamente ligado a falhas no funcionamento da pílula anticoncepcional. A dica, portanto, é usar algum tipo de alarme ou estabelecer ao menos um período do dia para tomar o remédio (manhã, tarde ou noite).

Esquecer de tomar a pílula com frequência

A eficácia da pílula está diretamente ligada ao fato de que esse medicamento é diário – e esquecer nem que seja apenas um dos comprimidos pode fazer com que ele falhe e uma gravidez indesejada aconteça. Caso a mulher se esqueça de tomar e lembre até 12 horas após o horário em que deveria ingerir o medicamento, o risco é bem baixo e ela deve tomar a pílula esquecida antes deste prazo terminar.

Já quando ela se lembra após o prazo de 12 horas, a orientação também é a de tomar a pílula esquecida e seguir a cartela normalmente, mas é indicado que ela ou evite ter relações sexuais na semana que suceder o esquecimento ou ao menos usar camisinha durante esse período para prevenir uma concepção.

É importante lembrar também que quanto maior é o número de dias em que a mulher se esquece de tomar o anticoncepcional, maior é o risco de o medicamento falhar, por isso o melhor a se fazer é encontrar um bom lembrete para ingerir o medicamento, combiná-lo com o uso constante de preservativos ou optar por um método que não requeira uma lembrança diária.

Combinar anticoncepcional à pílula do dia seguinte

Como a pílula do dia seguinte – medicamento que pode ser utilizado com frequência baixíssima quando há uma relação sexual sem camisinha ou qualquer outro método contraceptivo – tem uma carga hormonal maior que a da pílula, não é indicado que esses dois medicamentos sejam ingeridos simultaneamente, havendo risco de, entre alguns efeitos colaterais, o ciclo ficar “bagunçado” e a proteção contra gravidez diminuir.

De acordo com especialistas, quando há uma relação sexual sem o uso de camisinha e a mulher toma a pílula anticoncepcional corretamente sem esquecimentos ou atrasos, o uso da pílula do dia seguinte é desencorajado porque o primeiro medicamento já é o suficiente para evitar uma gravidez indesejada.

Emendar cartelas ou escolher a pílula sem orientação médica

Geralmente, emendar as cartelas de anticoncepcionais cuja ingestão pede uma pausa em cada ciclo faz com que a menstruação não desça e, por isso, isso é um hábito comum entre mulheres, mas fazê-lo sem orientação médica pode atrapalhar a eficácia do medicamento, deixando a mulher desprotegida. Caso a paciente não queira menstruar, deve conversar com o médico e optar por uma pílula contínua que tenha esse efeito.

Outra situação comum é a de mulheres que escolhem a pílula anticoncepcional que irão tomar por conta própria a partir da indicação de amigas, e isso também não é algo indicado. Como há diversas dosagens hormonais nesses remédios e eles podem provocar diversos efeitos, escolher um tipo inapropriado ou utilizá-lo sem saber como realmente funciona pode atrapalhar na prevenção contra gravidez.

Abusar do álcool

Além de certos medicamentos, abusar de bebidas alcoólicas também pode interferir em como o medicamento age no organismo. Enquanto a ingestão de álcool não corta o efeito da pílula anticoncepcional apenas por estar presente no organismo, ele é capaz de gerar alterações gastrointestinais que podem fazer o medicamento não ser tão eficaz quanto deveria.

Isso porque, quando a mulher, por exemplo, vomita ou tem uma diarreia severa poucas horas após tomar a pílula, o remédio pode não ter ficado no organismo por tempo suficiente para que os hormônios sejam corretamente absorvidos pelo corpo. Isso, por sua vez, é como se ela tivesse esquecido de tomar o remédio, e atrapalha a eficácia da pílula contra uma gravidez indesejada.

A ideia, portanto, é maneirar na ingestão do álcool enquanto estiver usando a pílula como método contraceptivo e, caso houver um episódio de vômito ou diarreia pouco tempo após a ingestão do medicamento, redobrar os cuidados na hora do sexo, usando camisinha sempre ou evitando ter relações até o próximo ciclo.

Armazenar a pílula de maneira inadequada

Pode parecer estranho, mas o lugar em que você guarda a cartela de anticoncepcionais também tem influência sobre a eficácia do medicamento. Isso, segundo especialistas, ocorre porque determinados locais podem fazer o medicamento perder sua estabilidade, ou seja, sua capacidade de manter as propriedades físicas, químicas e terapêuticas enquanto estiver estocado.

Ainda que o carro, por exemplo, tenha pontos estratégicos para manter um remédio que deve ser tomado diariamente – como o porta-luvas –, este é um dos locais contraindicados para isso. Segundo Wesley Barros, coordenador do curso de Farmácia do Centro Universitário Celso Lisboa, esse ambiente é pouco ventilado e está sujeito a temperaturas extremas, algo que pode danificar o medicamento.

Ao transportar o remédio em uma viagem aérea, também é necessário tomar cuidado porque, em um avião, as temperaturas normalmente são bem baixas devido à intensidade do ar condicionado no local onde as malas são transportadas. Aqui, a dica da ginecologista Maria Elisa Noriler é levar a cartela em uma bolsa de mão, evitando assim a refrigeração excessiva.

Caso a pílula seja constantemente deixada na bolsa, porém, também é preciso cuidado. Por ser um local onde se guarda muitas coisas, é preciso proteger bem a cartela para que ela não se rompa e deixe as pílulas expostas. Além disso, também é importante manter a bolsa longe do sol para que seu interior não fique abafado.

Um local comum para se estocar remédios é o banheiro, mas isso não é nada indicado. Segundo Barros, este é um cômodo que fica constantemente úmido, algo que pode perturbar a qualidade do produto. Além destes locais, também não é ideal manter o remédio próximo a janelas, na geladeira, próximo a aparelhos eletrônicos e nem fora da embalagem original em porta comprimidos.