SP tem 1ª morte por febre hemorrágica em 20 anos: o que é preciso saber sobre doença

O Ministério da Saúde confirmou a primeira morte por febre hemorrágica no Brasil 20 anos após o último caso registrado. A vítima é um morador da cidade de Sorocaba, interior de São Paulo, que morreu em 11 de janeiro.

O caso é o quarto a ocorrer na história do País. Devido à letalidade da doença, o órgão considera o caso um evento de saúde pública grave e, por isso, está agora esclarecendo informações sobre o quadro e monitorando pessoas que tiveram contato com o paciente.

Morte por febre hemorrágica em São Paulo: detalhes

Segundo o boletim emitido pelo Ministério da Saúde, o paciente começou a apresentar sintomas da doença em 30 de dezembro de 2019, e passou por três hospitais, dois no interior de São Paulo e um na capital. Em pouco mais de dez dias, o quadro que começou com náuseas, vertigem, dor para engolir e dores de cabeça evoluiu com febre alta, dores gerais, confusão mental e manifestação hemorrágica, levando-o a óbito.

A partir de exames realizados no Laboratório de Técnicas Especiais do Hospital Israelita Albert Einstein, foi possível identificar que o vírus causador do quadro pertence à família Arenaviridae, uma das seis que englobam as febres hemorrágicas e que, apesar de ser do mesmo gênero que o vírus causador do Ebola, não ocasiona a mesma doença.

Conforme explicou Júlio Croda, diretor do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, em uma coletiva de imprensa transmitida online pelo órgão, como a doença é transmitida especialmente por ratos silvestres contaminados, é difícil precisar o local onde a transmissão ocorreu, bem como capturar o animal responsável por ela.

Ainda assim, o órgão pretende iniciar uma visita a todos os locais pelos quais o paciente passou antes do início dos sintomas, para verificar se há relatos da presença de roedores em algum deles e tomar as medidas necessárias. Ele lembra, no entanto, que o vírus não é frequente nestes animais, e que o tempo de vida dele nos excrementos dos roedores é limitado, algo que dificulta essa identificação.

Há risco de epidemia?

Na coletiva, Croda explicou que o vírus identificado tem 90% de suas características similares às do chamado vírus Sabiá, arenavírus causador dos outros três casos documentados no Brasil, e que o caso não representa um grande risco para a população de forma geral justamente porque tanto a contaminação pelo vírus quanto a presença dele em ambientes amplamente frequentados são situações raras.

Quem corre mais risco, segundo o diretor, são as pessoas que tiveram contato direto com o paciente morto pela doença – especialmente profissionais da saúde que manusearam amostras de exame ou que ficaram muito próximos dele, executando procedimentos invasivos que possibilitam o contato com sangue, saliva e outros fluidos contaminados.

Estas pessoas (que, segundo Croda, estão entre 100 e 150), por sua vez, estão sendo monitoradas diariamente e, caso alguma delas apresente sintomas da doença, será internada e isolada para receber o devido tratamento sem ampliar a contaminação. Se não houver nenhuma manifestação da febre hemorrágica brasileira entre elas, o monitoramento deve ser encerrado no próximo dia 3.

Febre hemorrágica brasileira

O que é?

As febres hemorrágicas causadas por vírus são um grupo de doenças com origem em animais que têm sintomas graves e alto índice de letalidade. Divididas entre seis famílias, elas têm casos registrados no mundo inteiro e alguns exemplos destas doenças, além da febre hemorrágica brasileira causada pelo vírus Sabiá, são a dengue e o ebola, cada uma causada por vírus de uma família diferente.

No caso dos arenavírus, família na qual se insere o caso mais recente, a contaminação pela doença ocorre por meio da inalação de poeira contendo partículas de urina, fezes ou saliva de roedores infectados, bem como contato direto com fluidos corporais de humanos contaminados.

Sintomas

Segundo o boletim do Ministério da Saúde, o arenavírus causa uma síndrome febril hemorrágica, manifestando-se, portanto, com febre e hemorragias. Em geral, a doença começa com a elevação da temperatura, mal-estar geral, dores musculares, na boca do estômago, na garganta, atrás dos olhos e na cabeça, tontura e sensibilidade à luz. Conforme ela evolui, o paciente pode ter comprometimento neurológico.

Em sua fase mais avançada, ela provoca sintomas como confusão mental, comprometimento hepático (que resulta em hepatite) e neurológico e hemorragias, possivelmente levando a óbito.

Tratamento

Uma vez identificado o vírus em exames laboratoriais específicos, o tratamento é feito a partir do controle dos sintomas que o paciente em questão apresentar, bem como a administração de medicamentos antivirais que, quanto mais precoce for o quadro, mais efeito tendem a fazer.

Prevenção

Como a contaminação e a presença do vírus é rara, não há medidas de prevenção muito concretas, então o Ministério aconselha o devido uso de equipamentos de proteção (para profissionais da saúde) e orienta as pessoas a evitarem o contato com roedores silvestres encontrados em áreas rurais e de mata.

Tem uma dúvida de saúde? Envie para [email protected] e ela poderá ser respondida por um especialista em nossa nova coluna: VIX Responde.

Mais sobre febres hemorrágicas