Por que remédio que médico indicou à Shantal no parto pode até levar à morte em casos como o dela

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Em seu primeiro relato público mais detalhado sobre a violência obstétrica que sofreu, Shantal Verdelho declarou que, além das ofensas, apertões na barriga e sugestão de procedimentos contraindicados, ela também teve como recomendação do médico um medicamento perigoso. Usado para acelerar o parto, o Misoprostol pode, de fato, ajudar a mãe e o bebê – mas, em casos com o da influencer, pode levar ambos a óbito.

Shantal revela orientação de médico para usar remédio perigoso

Em entrevista ao “ Fantástico” (Rede Globo), Shantal Verdelho se abriu em detalhes pela primeira vez sobre o parto da filha mais nova, Domenica, que aconteceu em setembro de 2021 e foi marcado por um episódio de violência obstétrica. A influencer, que está processando o obstetra responsável pelo nascimento da filha, Renato Kalil, fez uma série de revelações – e, entre elas, a de que ele teria sugerido um remédio perigoso.

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Além das cenas duras mostradas nos vídeos que viralizaram – nas quais Shantal ouviu uma série de xingamentos no momento do parto e teve sua barriga empurrada de forma dolorosa durante uma técnica (contraindicada) chamada Manobra de Kristeller –, a influencer revelou também na entrevista um áudio no qual é orientada a considerar um medicamento para acelerar o trabalho de parto.

“Vamos pensar, vai. Pensa aí, de repente, no ‘miso’. A gente não precisa fazer dose inteira, faz devagarinho, interna e vai fazendo progressivamente”, diz um áudio que foi divulgado pelo programa e atribuído a Kalil. Na ocasião, o obstetra se referia ao medicamento Misoprostol que, apesar de ser, de fato, usado para tais funções, não era uma vontade de Shantal por motivos importantes.

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“Eu não estava tendo dilatação e, para isso, ele propôs mais de duas vezes para a gente fazer uso do Misoprostol. Eu sabia que Misoprostol era proibido para quem tem cesárea anterior – e eu tenho uma cesárea anterior. E que o risco é de morte. Pode ter um rompimento do útero, a mulher pode ter uma hemorragia e morrer. Mãe e bebê”, declarou ela durante a entrevista – e, segundo especialistas, isso está correto.

Em uma nota também divulgada pelo “Fantástico”, a equipe do médico afirmou que “o medicamento citado não foi prescrito nem ministrado”.

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Misoprostol em parto normal após cesárea: riscos e mais

Conforme explica Camila Ramos, ginecologista e obstetra especialista em reprodução humana e climatério, o Misoprostol é um medicamento que “imita” a prostaglandina, hormônio que induz as contrações uterinas. Em casos nos quais a mulher precisa ter seu parto induzido por uma série de razões, ele ajuda neste processo e tem, portanto, indicações apropriadas. “Ele é indicado nos casos de [pacientes com] bolsa rota ou antecipação do parto por alguma comorbidade”, afirma.

Ministrado por via vaginal – processo no qual os comprimidos são inseridos periodicamente na vagina da mulher – o medicamento costuma entrar em cena antes do trabalho de parto começar, de modo a dar início a ele. Em casos como o de Shantal, porém, ele não é indicado em nenhum momento do parto e, fazendo coro à fala da influencer na entrevista, a obstetra explica o motivo.

“O uso de Misoprostol é contraindicado em pacientes com cesáreas prévias já que existe o risco de ruptura uterina no local da cesárea devido às contrações que a medicação vai estimular. Ruptura uterina é uma urgência obstétrica grave que põe em risco a vida da gestante e do feto”, esclarece Camila, reforçando que isso é algo divulgado por autoridades em saúde e sabido no meio médico.

Embora no trabalho de parto espontâneo a mulher também tenha contrações, informações da Fiocruz indicam que, durante indução com Misoprostol, os riscos de haver uma ruptura uterina se tornam cinco vezes maiores. Conforme enfatizado pela instituição, a contraindicação do uso deste medicamento em pacientes com cesárea prévia está, inclusive, na própria bula do remédio.

Maternidade e saúde